Uma reforma face ao teste das realidades: o caso das “matemáticas modernas” na França dos anos 1970
DOI:
https://doi.org/10.7213/rde.v11i34.4498Resumo
No fim do ano de 1966, o Ministro da Educação Nacional Christian Fouchet decide criar uma comissão de estudos sobre o ensino das matemáticas. Instalada em um quase consenso aparente, esta comissão, presidida por André Lichnerowicz, vai se dedicar à renovação do ensino das matemáticas, notadamente à elaboração de novos programas de matemáticas “modernas” para o ensino secundário (11-17 anos). O objeto do presente artigo, fundamentado, principalmente, na análise dos arquivos da Comissão Lichnerowicz, é o exame do modo como certas realidades engendradas pela democratização do acesso à “escola média” (11-15 anos) nas décadas de 1950-1960, que não tinham sido consideradas a priori, são levadas em conta pelos membros desta comissão: realidades institucionais, como a existência de estudos de curta duração ao lado dos estudos de duração longa, que levam ao baccalauréat; realidades humanas, como a dos professores dos Colégios de Ensino Geral (CEG), tidos como supostamente despreparados para ensinar as “verdadeiras matemáticas” por sua origem “primária”, diferente da de seus colegas certificados ou agregados. O peso dessas realidades foi especialmente sentido quando da elaboração dos programas de matemáticas das 4ª e 3ª séries (13-15 anos), que levou, em janeiro de 1971, ao desencadeamento de uma crise aberta que estilhaça aquele consenso inicial. O caso da reforma das matemáticas modernas constitui, assim, um observatório particularmente pertinente para o exame dos constrangimentos insitucionais e humanos que pesam sobre a elaboração dos conteúdos de ensino.Downloads
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