Defesa psíquica na primeira tópica freudiana: por que as pulsões são reprimidas?

Autores

  • Aline Sanches Professora do Departamento de Psicologia da UEM-PR.
  • Josiane Cristina Bocchi Faculdade de Ciências - Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Bauru. Professora Assistente Doutora do Departamento de Psicologia. https://orcid.org/0000-0002-2657-9490 http://orcid.org/0000-0002-2657-9490

DOI:

https://doi.org/10.7213/1980-5934.33.058.DS10

Palavras-chave:

Pulsão. Sexualidade. Repressão

Resumo

Desde o início da teorização freudiana, inibição, defesa e censura são processos que devem incidir sobre as pulsões. O primitivo pulsional precisa ser reprimido ou transformado. Este artigo problematiza a relação entre as pulsões sexuais e a defesa psíquica, ao longo do período pré-psicanalítico e da primeira tópica freudiana. Situamos o conflito entre sexualidade e repressão, apontado por Freud como característico das psiconeuroses, enquanto que nas neuroses atuais a angústia está relacionada a um registro quantitativo e não exatamente a um conflito psíquico. Nesse caso, revela-se desencontros entre um sexual corpóreo e sua representação psíquica. Pretende-se, neste trabalho, evidenciar o caráter negativo das pulsões e pôr em relevo a natureza do antagonismo que se opõe às pulsões sexuais. A formulação das pulsões de autoconservação como aquilo que deve se contrapor às pulsões sexuais não esclarece completamente porque é imperativo que algo aconteça face às vivências pulsionais fundantes do aparelho. A satisfação em estado bruto acarreta prejuízos, tanto do ponto de vista psíquico quanto social; logo, a repressão das pulsões sexuais é condição necessária para a existência individual e coletiva. Evidencia-se assim algo específico do humano, afinal, se toda a natureza funciona afirmando o instinto, a espécie humana somente se desenvolve a partir de sua negação. A partir de tais construções teóricas, questiona-se se a psicanálise ainda permanece demasiadamente tributária de uma concepção de natureza revestida de pressupostos morais, sustentando a noção de que tenha que ser continuamente negada, afastada, coagida e domesticada, em prol de construções sociais bastante questionáveis, porém acatadas como necessárias.

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Biografia do Autor

Aline Sanches, Professora do Departamento de Psicologia da UEM-PR.

Aline Sanches é psicóloga pela Unesp/Assis, mestre e doutora em Filosofia pela UFSCar e doutora em Pesquisas em Psicopatologia e Psicanálise pela Paris VII. Professora do Departamento de Psicologia da UEM-PR.


Josiane Cristina Bocchi, Faculdade de Ciências - Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Bauru. Professora Assistente Doutora do Departamento de Psicologia. https://orcid.org/0000-0002-2657-9490

Josiane Cristina Bocchi é psicóloga, mestre em Psicologia e doutora em Filosofia. Professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências de Bauru e do Programa de Pós-Graduação em Educação Sexual da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.

 

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Publicado

2021-04-05

Como Citar

Sanches, A., & Bocchi, J. C. (2021). Defesa psíquica na primeira tópica freudiana: por que as pulsões são reprimidas?. Revista De Filosofia Aurora, 33(58). https://doi.org/10.7213/1980-5934.33.058.DS10