PODE UM ANIMAL TRANSITAR AS SENDAS QUE SE BIFURCAM? OU SOBRE DELEUZE LEITOR DE BORGES
DOI:
https://doi.org/10.7213/rfa.v16i19.1018Abstract
Há dois importantes momentos na leitura que Gilles Deleuze propõe
em relação à obra de Borges; estes momentos são, ao mesmo tempo,
singulares e opostos. O primeiro momento encontra-se no texto
Diferença e Repetição, no centro do capítulo “A repetição para si”; o
segundo momento surge na obra Mil Platôs, no platô intitulado “Devir
intenso, devir animal, devir imperceptível”. Em DR, Deleuze reivindica
a Borges como um dos autores centrais para melhor compreender o
conceito de “repetição” segundo é pensado pelo próprio Deleuze; já no
texto MP, a perspectiva deleuziana muda, dando lugar ao aparecimento
de uma crítica pontual e lapidar. A denúncia deleuziana aponta à
suposta incapacidade de Borges para pensar, suficientemente, o devir.
Na sua reivindicação da obra borgiana, Deleuze indica os textos “La
loteria en Babilônia” e “El jardín de los senderos que se bifurcan”; na
sua crítica lembra os livros Historia Universal de la infámia e Manual
de zoologia fantástica. Aquilo que parece estar no centro da dinâmica deste deslocamento de Deleuze pode ser resumido na seguinte questão: que tipo de repetição pode ser produzida, tanto no pensar, quanto no poetizar? Na sua redescoberta do devir em MP, Deleuze exige que inclusive a própria repetição pura baseada na diferença se reconheça nele. Sem dúvida Deleuze reconhece no autor argentino o primado do acaso e, portanto, da diferença no seio de qualquer repetição, ora, por outro lado, parece lamentar que esta repetição não possa, no horizonte borgiano, atingir o status do devir. Assim, o presente trabalho tem como objetivo expor as características deste deslocamento de perspectiva deleuziano, bem como a relação deste movimento com a natureza da repetição que Borges proporia nos textos citados.
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References
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