No silêncio da clausura: videntes de aparições marianas no Brasil (1928-1937)
DOI:
https://doi.org/10.7213/1981-416X.19.063.DS04Abstract
Este trabalho tem como escopo as memórias de duas religiosas que testemunharam visões marianas no Brasil ao longo da primeira metade do século XX. Em 1929 a irmã Amália de Jesus Flagelado (1901-1977), integrante da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado, teria iniciado suas visões de Jesus Manietado e Nossa Senhora das Lágrimas na cidade de Campinas, estado de São Paulo. Essa experiência religiosa foi amplamente divulgada na imprensa e em apenas cinco anos o bispo diocesano, Dom Francisco Campos Barreto, reconheceu as visões e autorizou o terço das Lágrimas. Por outro lado, nos idos de 1936, na vila de Cimbres, estado de Pernambuco, a jovem Maria da Luz Teixeira Carvalho, que passaria a ter o nome religioso de Irmã Adélia (1922-2013), teve a visão de Nossa Senhora das Graças, anunciando os perigos da propagação do comunismo no país. Após as aparições a jovem passou a integrar a Congregação das Damas Cristãs em Recife sob voto de silêncio sobre a questão. Com isso, tenho como problema de investigação a construção da memória sobre as duas visões e as ações de silenciamento e reclusão das videntes no âmbito das clausuras e dos espaços de experiência religiosa visionária. A pesquisa tem como fontes centrais os registros produzidos ao longo da década de 30 do século XX, momento de maior evidência pública das visões, com os questionários realizados por religiosos às videntes no processo de averiguação diocesana das visões e notícias publicadas na imprensa. Essa documentação foi analisada no sentido de buscar compreender a construção das memórias e dos silenciamentos (POLLAK, 1989), dos usos dos lugares de memórias (NORA, 1993) e das experiências (THOMPSON, 2007) das religiosas no âmbito inicial de constituição de uma cultura política católica anticomunista. Neste caso, a proposta dialoga com a nova história política, no âmbito do conceito de cultura política (RÉMOND, 2003). Nesse sentido, tornou-se possível entender as fissuras e polissemias discursivas no processo de afirmação e esquecimento das visões marianas no Brasil da década de 30.
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