Andrew Feenberg e a bidimensionalidade da tecnologia
DOI:
https://doi.org/10.7213/aurora.27.040.DS05Abstract
O presente ensaio analisa criticamente a principal tese de Feenberg sobre a natureza da tecnologia: sua bidimensionalidade. Consideramos primeiro o desenvolvimento da teoria crítica da tecnologia em Feenberg; como, a partir do abandono das noções heideggeriana e positivista de tecnologia, o autor encara o que ele acredita ser o verdadeiro mundo da tecnologia em seu vir a ser, enquanto intrinsecamente relacionada com o social. Nisso, ele se aproxima da tradição da Teoria Crítica, especialmente de Marcuse, de quem foi aluno. Entretanto, trata-se, como veremos, de uma apropriação crítica: enquanto Marcuse pensa que essa tecnologia que substituiu a ontologia deu origem a um homem unidimensional, cuja existência é incapaz de ultrapassar sua facticidade com uma mudança qualitativa da realidade na realidade, isto é, uma forma de existência em que a transcendência histórica é atrofiada; Feenberg acredita, por sua vez, que essa tecnologia foi mal concebida em sua essência, uma vez que não se percebeu seu aspecto bidimensional, isto é, o fato de que sendo não apenas um projeto abstrato, mas em si mesmo composto de um momento social contingente, a transcendência histórica é parte inelutável do processo tecnológico como tal. Esse caráter transformador, no interior da tecnologia, é articulado por Feenberg a partir da diferença entre técnica e experiência integrativa, enquanto dois momentos da própria racionalidade tecnológica. Mostramos também como essa bidimensionalidade da tecnologia deve ser entendida de maneira holística e dialética, buscando, por fim, aplicar e testar a teoria crítica de Feenberg a partir do caso que mais goza do apreço do autor, a Internet — tema, inclusive, do último livro editado por ele, junto com Norm Friesen, (Re)Inventing the Internet (2012) —, o que nos permitirá entrar numa discussão final de alguns pontos críticos de sua filosofia da técnica.Downloads
References
ACHTERHUIS, H. Andrew Feenberg: farewell to dystopia. In: ACHTERHUIS,
H. American Philosophy of Technology. Bloomington; Indianapolis: Indiana
University Press, 2001.
BUTLER, S. Darwin among the machines. In: BUTLER, S. A first year in
Canterbury settlement with other early essays. Edited by Richard Alexander
Streatfeild. London: A. C. Fifield, 1914. p. 179-186. Originalmente publicado
em 1873.
COOPER, S. The posthuman challenge to Andrew Feenberg. In: VEAK, T. J.
(Ed.). Democratizing technology: Andrew Feenberg’s critical theory of technology. Albany: State University of New York Press, 2006. p. 19-36.
DOPPELT, G. Democracy and technology. In: VEAK, T. J. (Ed.). Democratizing technology: Andrew Feenberg’s critical theory of technology. Albany: State University of New York Press, 2006. p. 85-100.
FEENBERG, A. Technical codes, interests, and rights: response to Doppelt. The Journal of Ethics, v. 5, n. 2, p. 177-195, 2001.
FEENBERG, A. Transforming technology: a critical theory revisited. New York: Oxford University Press, 2002.
FEENBERG, A. What is philosophy of technology? Lecture for the Komaba undergraduates. 2003. Disponível em: <http://www.sfu.ca/~andrewf/komaba.htm>. Acesso em: 3 nov. 2014.
FEENBERG, A. Heidegger and Marcuse: the catastrophe and redemption of
History. New York: Routledge, 2005.
FEENBERG, A. Replies to critics. In: VEAK, T. J. (Ed.). Democratizing technology: Andrew Feenberg’s critical theory of technology. Albany: State University of New York Press, 2006. p. 175-210.
FEENBERG, A. Between reason and experience: essays in technology and modernity. Cambridge: MIT Press, 2010a.
FEENBERG, A. Ten paradoxes of technology. Techné, v. 14, n.1, p. 3-16, Winter 2010b.
FEENBERG, A. Introduction: toward a critical theory of the Internet. In:
FEENBERG, A.; FRIESEN, N. (Re)Inventing the Internet. Rotterdam: Sense
Publishers, 2012a. p. 3-17.
FEENBERG, A.; FRIESEN, N. La pensée de la technique: pour une approche
humaniste. Esprit, n. 12, p. 49-64, déc. 2012b.
HEIDEGGER, M. Der Ursprung des Kunstwerkes. In: HEIDEGGER, M.
Gesamtausgabe. Frankfurt: Klostermann, 1977. v. 5. p. 1-74. Originalmente publicado em 1935/36.
HICKMAN, L. A. From critical theory to pragmatism: Feenberg’s progress.
In: VEAK, T. J. (Ed.). Democratizing technology: Andrew Feenberg’s critical
theory of technology. Albany: State University of New York Press, 2006.
p. 71-81.
HOTTOIS, G. Introduction. In: CHABOT, P.; HOTTOIS, G. Les philosophes et la technique. Paris: J. Vrin, 2003.
MARICONDA, P. R.; MOLINA, F. T. Entrevista com Andrew Feenberg.
Scientiae Studia, v. 7, n. 1, p. 165-171, 2009.
MARCUSE, H. De l’ontologie a la technologie: les tendances de la société industrielle. Arguments, v. 4, n. 18, p. 54-59, 1960.
MARCUSE, H. One-dimensional man. New York: Routlledge, 2006a. Publicado originalmente em 1964.
MARCUSE, H. Art and liberation. In: MARCUSE, H. Collected papers of Herbert Marcuse. New York: Routlledge, 2006b. v. 4.
SENNETT, R. The Craftsman. New Haven: Yale University Press, 2008.
THOMSON, I. What’s wrong with being a technological essentialist? A response to Feenberg. In: VEAK, T. J. (Ed.). Democratizing technology: Andrew Feenberg’s critical theory of technology. Albany: State University of New York Press, 2006. p. 53-70.
TOWARNICKI, F. de; PALNIER, J-M. Conversación con Heidegger. Trad.
Julio Díaz Báez. Revista Palos de la Crítica, n. 4, abr./sept. 1981. Originalmente publicado em: L’Express, n. 954, 20-26 oct. 1969.
VEAK, T. Whose technology? Whose modernity? Questioning Feenberg’s
Questioning technology. Science, Technology and Human Values, v. 25, n. 2, p. 226- 237, Spring 2000.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
O autor transfere, por meio de cessão, à EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o n.º 76.659.820/0009-09, estabelecida na Rua Imaculada Conceição, n.º 1155, Prado Velho, CEP 80.215-901, na cidade de Curitiba/PR, os direitos abaixo especificados e se compromete a cumprir o que segue:
- Os autores afirmam que a obra/material é de sua autoria e assumem integral responsabilidade diante de terceiros, quer de natureza moral ou patrimonial, em razão de seu conteúdo, declarando, desde já, que a obra/material a ser entregue é original e não infringe quaisquer direitos de propriedade intelectual de terceiros.
- Os autores concordam em ceder de forma plena, total e definitiva os direitos patrimoniais da obra/material à EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, a título gratuito e em caráter de exclusividade.
- A CESSIONÁRIA empregará a obra/material da forma como melhor lhe convier, de forma impressa e/ou on line, inclusive no site do periódico da EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, podendo utilizar, fruir e dispor do mesmo, no todo ou em parte, para:
- Autorizar sua utilização por terceiros, como parte integrante de outras obras.
- Editar, gravar e imprimir, quantas vezes forem necessárias.
- Reproduzir em quantidades que julgar necessária, de forma tangível e intangível.
- Adaptar, modificar, condensar, resumir, reduzir, compilar, ampliar, alterar, mixar com outros conteúdos, incluir imagens, gráficos, objetos digitais, infográficos e hyperlinks, ilustrar, diagramar, fracionar, atualizar e realizar quaisquer outras transformações, sendo necessária a participação ou autorização expressa dos autores.
- Traduzir para qualquer idioma.
- Incluir em fonograma ou produção audiovisual.
- Distribuir.
- Distribuir mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permite ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário.
- Incluir e armazenar em banco de dados, físico, digital ou virtual, inclusive nuvem.
- Comunicar direta e/ou indiretamente ao público.
- Incluir em base de dados, arquivar em formato impresso, armazenar em computador, inclusive em sistema de nuvem, microfilmar e as demais formas de arquivamento do gênero;
- Comercializar, divulgar, veicular, publicar etc.
- Quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas.
- Os autores concordam em conceder a cessão dos direitos da primeira publicação (ineditismo) à revista, licenciada sob a CREATIVE COMMONS ATTRIBUTION LICENSE, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria.
- Os autores autorizam a reprodução e a citação de seu trabalho em repositórios institucionais, página pessoal, trabalhos científicos, dentre outros, desde que a fonte seja citada.
- A presente cessão é válida para todo o território nacional e para o exterior.
- Este termo entra em vigor na data de sua assinatura e é firmado pelas partes em caráter irrevogável e irretratável, obrigando definitivamente as partes e seus sucessores a qualquer título.
- O não aceite do artigo, pela EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, tornará automaticamente sem efeito a presente declaração.