Mudança estrutural da esfera privada? Big data e os desafios à antropologia política da modernidade
DOI:
https://doi.org/10.7213/1980-5934.32.057.AO03Keywords:
Big data, Esfera privada, Autonomia, Filosofia política, Modernidade.Abstract
Uma reflexão crítica sobre os caminhos e descaminhos das tecnologias contemporâneas se impõe com cada vez mais força na atualidade. Não se pode mais falar das dimensões “social” e “política” apenas se referindo à interação intersubjetiva; é preciso focar igualmente na interação humana com os aparatos técnicos. Tendo como pano de fundo a crescente digitalização da vida, acompanhada de processos de captação e armazenamento massivos de dados por parte de diferentes mecanismos e instâncias, gostaria de abordar, neste artigo, uma série de análises sobre os impactos do big data nos campos da economia, da política e da subjetividade a fim de colocar a seguinte questão: em que medida esse novo fenômeno não altera a configuração dos espaços de socialização e subjetivação, notadamente a esfera privada, de sorte a gerar um impacto na própria estruturação das democracias modernas? Tal questão se impõe na medida em que a antropologia política da modernidade é baseada, predominantemente, em uma noção substancial de sujeito autônomo, que possui na esfera privada um espaço fundamental de atividade e vivência cujo acesso lhe é privilegiado. Sendo assim, o objetivo do artigo é o de iniciar uma discussão sobre até que ponto as bases da antropologia política da modernidade não estariam sendo solapadas a partir de uma “mudança estrutural da esfera privada”, uma vez que o acesso privilegiado do indivíduo a determinados dados privados poderia ser suplantado pelo advento do Big Data, ameaçando um dos principais pressupostos teóricos e institucionais do liberalismo e da democracia moderna, a saber: a de que somos seres autônomos, responsáveis e os únicos capazes de legitimamente deliberar e tomar determinadas decisões. Procurarei trabalhar tal questionamento a partir de uma proposta de reatualização do conceito habermasiano de consciência tecnocrática.
Downloads
References
ARENDT, H. A Condição Humana. 10a edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
COHEN, J. Examined Lives: Informational Privacy and the Subject as Object. Stanford Law Review, v. 52, n. 5, p. 1373-1438, 2000.
FLORIDI, L. The Fourth Revolution: How the infosphere is reshaping human reality. New York ; Oxford: Oxford University Press, 2014.
HABERMAS, J. Faktizität und Geltung. Frankfurt: Suhrkamp, 1994.
HABERMAS, J. Técnica e Ciência como Ideologia. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores- Escola de Frankfurt).
HAN, B.-C. O coronavírus de hoje e o mundo de amanhã. El País, 22 mar. 2020a. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ideas/2020-03-22/o-coronavirus-de-hoje-e-o-mundo-de-amanha-segundo-o-filosofo-byung-chul-han.html. Acesso em: 30 abr. 2020.
HAN, B.-C. Pandemia do coronavírus indica retorno à sociedade disciplinar. Folha de São Paulo, 5 abr. 2020b. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/pandemia-do-coronavirus-indica-retorno-a-sociedade-disciplinar.shtml. Acesso em :30 abr. 2020.
HEIDEGGER, M. A questão da técnica. Sci. stud., São Paulo , v. 5, n. 3, p. 375-398, Sept. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662007000300006&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 28 abr. 2020. https://doi.org/10.1590/S1678-31662007000300006.
LUPTON, D. The diverse domains of quantified selves: self-tracking modes and dataveillance. Economy and Society, v. 45, n. 1, p. 101-122, jan. 2016.
MENÁRGUEZ, A. Os privilegiados são analisados por pessoas; as massas, por máquinas. El País, 21 nov. 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/11/12/tecnologia/1542018368_035000.html. Acesso em: 23 dez. 2018.
REPA, L. A cooriginariedade entre direitos humanos e soberania popular: a crítica de Habermas a Kant e Rousseau. Trans/Form/Ação, vol. 36, pp. 103-120, 2013.
ROUSSEAU, J-J. Do contrato social. Ed. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
ROUVROY, A. Le gouvernement algorithmique ou l’art de ne pas changer le monde. La revue nouvelle, n. 8, 2016. Disponível em: https://www.academia.edu/28370856/Le_gouvernement_algorithmique_ou_lart_de_ne_pas_changer_le_monde. Acesso em: 23 dez. 2018.
STAHL, T. Indiscriminate Mass Surveillance and the Public Sphere. Ethics and Information Technology, v. 18, n. 1, p. 33–39, 2016.
ZUBOFF, S. Big Other: Surveillance Capitalism and the Prospects of an Information Civilization. Social Science Research Network, 4 abr. 2015. Disponível em: https://papers.ssrn.com/abstract=2594754. Acesso em: 14 ago. 2018.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
O autor transfere, por meio de cessão, à EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o n.º 76.659.820/0009-09, estabelecida na Rua Imaculada Conceição, n.º 1155, Prado Velho, CEP 80.215-901, na cidade de Curitiba/PR, os direitos abaixo especificados e se compromete a cumprir o que segue:
- Os autores afirmam que a obra/material é de sua autoria e assumem integral responsabilidade diante de terceiros, quer de natureza moral ou patrimonial, em razão de seu conteúdo, declarando, desde já, que a obra/material a ser entregue é original e não infringe quaisquer direitos de propriedade intelectual de terceiros.
- Os autores concordam em ceder de forma plena, total e definitiva os direitos patrimoniais da obra/material à EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, a título gratuito e em caráter de exclusividade.
- A CESSIONÁRIA empregará a obra/material da forma como melhor lhe convier, de forma impressa e/ou on line, inclusive no site do periódico da EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, podendo utilizar, fruir e dispor do mesmo, no todo ou em parte, para:
- Autorizar sua utilização por terceiros, como parte integrante de outras obras.
- Editar, gravar e imprimir, quantas vezes forem necessárias.
- Reproduzir em quantidades que julgar necessária, de forma tangível e intangível.
- Adaptar, modificar, condensar, resumir, reduzir, compilar, ampliar, alterar, mixar com outros conteúdos, incluir imagens, gráficos, objetos digitais, infográficos e hyperlinks, ilustrar, diagramar, fracionar, atualizar e realizar quaisquer outras transformações, sendo necessária a participação ou autorização expressa dos autores.
- Traduzir para qualquer idioma.
- Incluir em fonograma ou produção audiovisual.
- Distribuir.
- Distribuir mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permite ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário.
- Incluir e armazenar em banco de dados, físico, digital ou virtual, inclusive nuvem.
- Comunicar direta e/ou indiretamente ao público.
- Incluir em base de dados, arquivar em formato impresso, armazenar em computador, inclusive em sistema de nuvem, microfilmar e as demais formas de arquivamento do gênero;
- Comercializar, divulgar, veicular, publicar etc.
- Quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas.
- Os autores concordam em conceder a cessão dos direitos da primeira publicação (ineditismo) à revista, licenciada sob a CREATIVE COMMONS ATTRIBUTION LICENSE, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria.
- Os autores autorizam a reprodução e a citação de seu trabalho em repositórios institucionais, página pessoal, trabalhos científicos, dentre outros, desde que a fonte seja citada.
- A presente cessão é válida para todo o território nacional e para o exterior.
- Este termo entra em vigor na data de sua assinatura e é firmado pelas partes em caráter irrevogável e irretratável, obrigando definitivamente as partes e seus sucessores a qualquer título.
- O não aceite do artigo, pela EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, tornará automaticamente sem efeito a presente declaração.