A natureza do homem como fronteira (methórios) em Fílon de Alexandria e Gregório de Nissa
DOI:
https://doi.org/10.7213/revistadefilosofiaaurora.7520Resumo
O exame do termo methórios na obra de Gregório de Nissa mostra que há uma inequívoca dependência de Filon de Alexandria. Gregório não o utiliza jamais para designar nem a continuidade da matéria e do espírito, no sentido estoico, nem a do espírito e do divino, no sentido platônico. Ele não admite continuidade em nenhum desses casos. Não obstante a condição de queda, o homem é dotado de espírito: isso fez com que ele se colocasse como ponto de demarcação (methórios) entre a matéria e o espírito. Em Gregório, porém, há um elemento novo em relação à tradição: para ele, o homem é methórios entre o mundo inteligível e o mundo sensível não enquanto representa uma transição de um ao outro (do sensível para o inteligível, como na tradição platônica), mas enquanto representa características opostas e irredutíveis. Nesse sentido, na qualidade de fronteira ou demarcação (methorios) entre duas realidades opostas, a liberdade humana enquanto tal deve escolher entre o bem e o mal. Em outras palavras: o que Gregório assevera não é tanto nem principalmente o fato de que o homem pertence às duas esferas, mas, antes de tudo, que este é livre para inclinar- -se para uma parte ou para outra parte. É, portanto, a liberdade que prevalece. Tal liberdade é considerada em sua qualidade essencial: voltar-se ora para o sensível, ora para o inteligível.Downloads
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