O que é, o que é: a morte? Notas e reflexões sobre o conceito de morte em Martin Heidegger

Autores

DOI:

https://doi.org/10.7213/1980-5934.33.059.AO01

Palavras-chave:

morte, ser-para-a-morte, Fenomenologia, Heidegger.

Resumo

Tendo como ponto de partida a expressão “Um humano [Mensch] logo que nasce já é bastante velho para morrer”, escrita por Martin Heidegger em Ser e Tempo, este artigo se apresenta como uma ousada tentativa de releitura do conceito de morte, dada a dificuldade de interpretação de sua magnum opus, em especial da segunda parte da obra. Esta empreitada se concentrou em buscar compreender a morte, o ser-para-a-morte e a antecipação, conceitos fundantes do pensamento heideggeriano e reunidos aqui sob uma nova perspectiva. Para além da interpretação cotidiana deste conceito - que deve ser de imediato colocada em suspenso - ou ainda de uma parte significativa das leituras especializadas de Heidegger, este trabalho entende que a morte, no horizonte do pensamento heideggeriano, é o processo cotidiano de atualização (ato) de possibilidades (potência) no interior da experiência humana. Tendo a fenomenologia como recurso de análise, e o fenômeno da morte como chave de acesso à questão do sentido da morte, foi possível reunir aqui um conjunto de notas e direção para se compreender todos os existenciais como sinônimos de morte, o que se evidencia na condição cotidiana de um Dasein impróprio, inautêntico, e no aparecimento (Erscheinung) de um mim-mesmo prevaricado com a-gente (das Man), à semelhança caricatural de um “morto-vivo”, um “zumbi”, tema muito em voga, nos dias de hoje, em filmes e séries. Embora o “humano” - cotidianamente sujeito a representações sucessivas - se atenha a isto ou aquilo, em ser-para-a-morte se está livre de todo apego a isto ou aquilo, na aquiescência tanto disto quanto daquilo, na proximidade de tudo e pertencimento a nada, no “deixar-ser” (Gelassenheit).


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Biografia do Autor

João Cardoso de Castro, UNIFESO

Doutor em Bioética pelo Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva - UFRJ, com período sanduíche [CAPES] na DePaul University (Chicago). Possui graduação em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2005) e mestrado em Educação em Ciências e Saúde pela UFRJ (2009). Atualmente é professor de Filosofia em cursos de graduação e Coordenador da Editora UNIFESO. Principais temas de atuação: filosofia antiga, Heidegger, fenomenologia, epistemologia, ética, Bioética.

Murilo Cardoso de Castro

Possui graduação em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976), mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996), doutorado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999), com período sanduíche na Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3 (1999) e doutorado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005).

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Publicado

2021-08-31

Como Citar

Cardoso de Castro, J., & Cardoso de Castro, M. (2021). O que é, o que é: a morte? Notas e reflexões sobre o conceito de morte em Martin Heidegger. Revista De Filosofia Aurora, 33(59). https://doi.org/10.7213/1980-5934.33.059.AO01