Nietzsche e a Mnemotécnica: do sofrimento à afirmação da vida pelo artista da dor
DOI:
https://doi.org/10.7213/1980-5934.32.056.AO03Palavras-chave:
Nietzsche, memória, mnemotécnica, esquecimento, ressentimentoResumo
Uma das técnicas, pensadas por Nietzsche, para ativar a consciência moral é a técnica da memória, que o filósofo denomina mnemotécnica. Ora, submeter a memória a procedimentos com capacidade de predição e controle, equivale a despi-la daquilo que é sua característica orgânica e vital que lhe confere a capacidade de, para além de todos os enquadramentos técnicos superficiais, a todo o momento superar-se mediante o alcance de pontos mais culminantes de potência. As considerações de Nietzsche em torno do problema da má consciência, assim como de sua expressão em forma de ódio e vingança é marca do ressentimento, estão ligadas aos obstáculos que se interpõem frente à ação. Pela ação, toda a carga instintiva é manifesta em forma de obra de arte pelo criador; ao contrário, se interiorizada, a carga se torna veneno degenerativo. Nietzsche atribui estes obstáculos à ação e à memória como um dos fatores preponderantes. Na Segunda Dissertação de Para a genealogia da moral, Nietzsche apresenta a má consciência como um fatalismo sem luta, o que repercute em resignação e doença. Pela má consciência às propensões naturais do agir é atribuído um olhar ruim, hostil à vida e difamador do mundo. Sua origem se liga a um movimento de interiorização dos instintos, o que resulta em luta contra si mesmo e degeneração fisiológica. A presente investigação considera as diversas técnicas que foram sendo desenvolvidas a fim de que não só as informações mais diversas não caíssem no esquecimento, mas a maneira como estas são lembradas no sentido de produzirem, ao invés de expansão da vida, encolhimento, resignação e degeneração. Estaria Nietzsche defendendo a dissolução da memória como um todo, ou redimensionando a maneira pela qual se tem vivido dela?
Downloads
Referências
ALVEZ, D. M. F. Nietzsche e a demonstração do animal homem. Revista Lampejo, n. 4, 2013.
AZEREDO, V. D. Nietzsche e a dissolução da moral. São Paulo: Editora Unijuí, 2003.
AZEREDO, V. D. Memória (Gedachtniss). In: Dicionário Nietzsche. Loyola, 2016, p. 298-300.
BRUNO, G., Opere mnemotecniche. Tomo I. CILIBERTO, M.; MATTEOLI, M.; STURLESE, R.; TIRINNANZI, N. (org.). Milano: Adelphi, 2004.
BRUSOTTI, M. Selbstverklienerung des Menschen in der Moderne. Nietzsche-Studien,
n. 20, p. 91, 1992.
GIACÓIA, O. J. Nietzsche. O humano como memória e como promessa. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
CICERONE, M. T., De Oratore em Opere Retoriche vol. I. Giuseppe Norcio. Torino: Tipografia Torinese, 1970.
MAGNUS, B. & HIGGINS, K. Nietzsche. São Paulo: Editora Ideias e Letras, 2017.
MARTON, S. Extravagâncias. Ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. São Paulo: Editora Unijuí, 2000.
MARTON, S. Nietzsche, seus leitores e suas leituras. São Paulo: Barcarolla, 2010.
MOREIRA, A. B. Nietzsche e o cinismo grego: elementos para a crítica à vontade de verdade. Cadernos Nietzsche, n. 22, USP, São Paulo, p. 65-91, 2007.
NIETZSCHE, F. W. Kritische Studienausgabe. Herausgegeben von Giorgio Colli und Mazzino Montinari. Verlag de Gruyter: Berlin, 1999. 15 Bd.
NIETZSCHE, F. W. Nachgelassene fragmente. Herausgegeben von Giorgio Colli und Mazzino Montinari. Walter de Gruyter: Berlin, 1999. 15 Bd.
NIETZSCHE, F. W. Briefwechsel: Kritische Gesamtausgabe Briefwechsel KGB. Herausgegeben von Georgio Colli und Mazzino Montinari. Berlin: Walter de Gruyter, 1981. Bd III1 und 1975. Bd I2.
NIETZSCHE, F. W. Além do bem e do mal. Prelúdio a uma filosofia do futuro. Companhia das Letras: São Paulo, 2000.
NIETZSCHE, F. W. Genealogia da Moral. Uma polêmica. Companhia das Letras: São Paulo, 2001.
ONATE, A. M. O crepúsculo do sujeito em Nietzsche ou como abrir-se ao filosofar sem metafísica. São Paulo: Editora Unijuí, 2000.
PASCHOAL, A. E. Nietzsche e o ressentimento. São Paulo: Humanitas, 2014.
PIMENTA, O. Nietzsche, Thomas Mann e a superação do niilismo. Caminhos percorridos e terras incógnitas. Unijuí: São Paulo, 2004. p. 161-171.
SILVA, C. V. Crueldade e inocência: novos valores para um novo pensamento. Cadernos Nietzsche, n. 22, 2006. p. 33-45.
STEGMAIER, W. As linhas fundamentais do pensamento de Nietzsche. Petrópolis: Vozes, 2013.
YATES, F. A. A arte da memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.
WOODWARD, A. Nietzscheanismo. Petrópolis: Vozes, 2016.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
O autor transfere, por meio de cessão, à EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o n.º 76.659.820/0009-09, estabelecida na Rua Imaculada Conceição, n.º 1155, Prado Velho, CEP 80.215-901, na cidade de Curitiba/PR, os direitos abaixo especificados e se compromete a cumprir o que segue:
- Os autores afirmam que a obra/material é de sua autoria e assumem integral responsabilidade diante de terceiros, quer de natureza moral ou patrimonial, em razão de seu conteúdo, declarando, desde já, que a obra/material a ser entregue é original e não infringe quaisquer direitos de propriedade intelectual de terceiros.
- Os autores concordam em ceder de forma plena, total e definitiva os direitos patrimoniais da obra/material à EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, a título gratuito e em caráter de exclusividade.
- A CESSIONÁRIA empregará a obra/material da forma como melhor lhe convier, de forma impressa e/ou on line, inclusive no site do periódico da EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, podendo utilizar, fruir e dispor do mesmo, no todo ou em parte, para:
- Autorizar sua utilização por terceiros, como parte integrante de outras obras.
- Editar, gravar e imprimir, quantas vezes forem necessárias.
- Reproduzir em quantidades que julgar necessária, de forma tangível e intangível.
- Adaptar, modificar, condensar, resumir, reduzir, compilar, ampliar, alterar, mixar com outros conteúdos, incluir imagens, gráficos, objetos digitais, infográficos e hyperlinks, ilustrar, diagramar, fracionar, atualizar e realizar quaisquer outras transformações, sendo necessária a participação ou autorização expressa dos autores.
- Traduzir para qualquer idioma.
- Incluir em fonograma ou produção audiovisual.
- Distribuir.
- Distribuir mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permite ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário.
- Incluir e armazenar em banco de dados, físico, digital ou virtual, inclusive nuvem.
- Comunicar direta e/ou indiretamente ao público.
- Incluir em base de dados, arquivar em formato impresso, armazenar em computador, inclusive em sistema de nuvem, microfilmar e as demais formas de arquivamento do gênero;
- Comercializar, divulgar, veicular, publicar etc.
- Quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas.
- Os autores concordam em conceder a cessão dos direitos da primeira publicação (ineditismo) à revista, licenciada sob a CREATIVE COMMONS ATTRIBUTION LICENSE, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria.
- Os autores autorizam a reprodução e a citação de seu trabalho em repositórios institucionais, página pessoal, trabalhos científicos, dentre outros, desde que a fonte seja citada.
- A presente cessão é válida para todo o território nacional e para o exterior.
- Este termo entra em vigor na data de sua assinatura e é firmado pelas partes em caráter irrevogável e irretratável, obrigando definitivamente as partes e seus sucessores a qualquer título.
- O não aceite do artigo, pela EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT, tornará automaticamente sem efeito a presente declaração.