Os limites da percepção interna e a idolatria do autoconhecimento em Scheler
DOI:
https://doi.org/10.7213/1980-5934.31.053.DS03Palavras-chave:
Fenomenologia da percepção, sentido interno, corporalidade, autoconhecimentoResumo
O artigo pretende discutir a possiblidade da percepção interna, delimitando-a do compreender da pessoa, que pode ser tanto compreensão do próximo como autocompreensão. Do mesmo modo, a percepção interna poder ser a percepção de si mesmo como percepção do outro. Parte-se, portanto, de uma indicação recorrente na fenomenologia de Scheler, de acordo com a qual a percepção interna não pode ser reduzida à autopercepção, entendida, sobretudo, no sentido de autoconsciência. Nesta direção, primeiramente, tenta-se uma definição fenomenológica do ato em questão, visando, sobretudo, libertá-lo das determinações idealistas enquanto autoconsciência e das compreensões subjetivistas, tais como a auto-observação e meio de autoconhecimento. Para tanto, demonstra-se que a percepção interna é uma direção de um único ato perceptivo e que o seu objeto não é uma forma lógica pura e vazia, mas sim a apreensão do eu material, concreto e singular. A intuição imediata e direta deste eu, então, aparecerá como a base sobre a qual se rompe com as duas interpretações supracitadas. Por fim, discute-se os elementos internos que contribuem para estes limites, em especial a fisiologia do sentido interno e os interesses do corpo-próprio (Leib), o que permite entender positivamente os limites e descrever os seus primeiros significados. A partir deste ganho fenomenológico, a investigação detém-se nos fatores externos, responsáveis por transformar a percepção interna em mero instrumento do autoconhecimento e por subjugá-la às metas e interpretações da cosmovisão natural, analisando brevemente as fontes da idolatria do autoconhecimento. Conclui-se que, na delimitação de sua possibilidade essencial, a desconsideração do papel psicofisiológico do sentido interno, a transladação das leis e relações espaço-temporais próprias da esfera física para a psíquica e, consequentemente, a superposição da percepção externa sobre a interna em consonância com a interpretação sensualista da última são as principais fontes da ilusão denominada idolatria do autoconhecimento.
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