Gendrificação, ciência e ética em contextos de experiência reprodutiva

Autores

  • Marlene Tamanini

DOI:

https://doi.org/10.7213/revistapistispraxis.6042

Palavras-chave:

Gendrificações da ciência, Reprodução assistida, Ética do cuidado, Desejo, Conjugalidades.

Resumo

A reflexão proposta neste texto foi construída na interface com o contexto da intervenção e da expansão das especialidades, trabalhando com reprodução humana hoje. Essas atividades têm aumentado as práticas de fragmentação corporal, a intervenção em órgãos, células e embriões para conseguir bebês, e são conhecimentos, protocolos e redes de especialidades que estão se intensificando; nelas os especialistas encontram-se bem posicionados. É uma biossociabilidade na qual, concomitantemente aos processos de reprodução laboratorial, ocorre intenso desenvolvimento biotecnológico, de alta tecnologia em laboratórios e de microscópios de grande magnitude, meios de cultivo e forte investimento no treinamento e no conhecimento do material reprodutivo humano; como aspectos interventores e fazedores dos processos desenvolvidos sobre óvulos, sêmen e embriões. O campo da reprodução, portanto, não diz respeito somente ao corpo de mulheres. Permitiu a entrada das práticas de tratamento também para os homens com problemas de infertilidade ou de infecundidade, termo mais apropriado para as relações homoafetivas. Estabelece-se, assim, uma vasta dinâmica em que o uso de gametas, os diagnósticos sobre embriões e sua utilização para fins de pesquisa,as intervenções da indústria terapêutica, a vasta difusão do uso de hormônios e de novos meios de cultivo formam importantes processos globais na ordem reprodutiva.Essas práticas constroem valores que são analisados neste texto, focando-se os desafios interpostos à ética do cuidado, às perguntas sobre adoção de bebês versus as decisões conflitivas por reprodução assistida, a ordem do desejo e os desafios aos processos de filiação nas diversas conjugalidades.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marlene Tamanini

 Doutora em interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, orientadora e pesquisadora de transversalidades entre trabalho, cuidado, maternidade, paternidade e família, sexualidades, conjugalidades e ciência, violência, políticas e direitos, pela perspectiva analítica de gênero, ph.D em temáticas das tecnologias reprodutivas conceptivas,relativas a especialidades, valores, filiações, ciência e gênero, na Universidade de Barcelona, Departamento de Antropologia Social na Faculdade de Geografia e História, Barcelona - Espanha.

Referências

ATLAN, H. O útero artificial. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2006.

BAUMAN, Z. Amor líquido. São Paulo: J. Zahar, 2004.

BESTARD, C. J. Tras la biologia: la moralidad del parentesco y las nuevas tecnologías de reproducción. Barcelona: Universidad de Barcelona, 2004.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução n. 1. 957, de 15 de dezembro de 2010. A Resolução CFM n. 1.358/92, após 18 anos de vigência, recebeu modificações relativas à reprodução assistida, o que gerou a presente resolução, que a substitui in totum. Diário Oficial da União, Seção I, p. 7. 6 jan. 2011. Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2010/1957_2010.htm>. Acesso em: 10 out. 2011.

DINIZ, D.; COSTA, R. Infertilidade e infecundidade: acesso às novas tecnologias conceptivas. Brasília: LetrasLivres, 2005. (SérieAnis 34).

DUMOND, L. Homo Hierarchicus. São Paulo: EDUSP, 1992.

FREUND, J. Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Forense, 1987.

FITO, C. Identidad, cuerpo y parentesco: etnografia sobre la experiencia de la infertilidad y la reproducción asistida en Cataluña. Barcelona: Bellaterra, 2010.

FONSECA, C. A vingança de Capitu: DNA, escolha e destino na família brasileira contemporânea. In: BRUSCHINI, C.; UNBEHAUM, S. G. (Org.). Gênero, democracia e sociedade brasileira. São Paulo: FCC; Editora 34, 2002. p. 267-293.

FONSECA, C. A certeza que pariu a dúvida: paternidade e DNA. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 12, n. 2, p. 13-34, 2004.

FONSECA, C. Da circulação de crianças à adoção internacional: questões de pertencimento e posse. Cadernos Pagu, Campinas, v. 26, p. 11-43, 2006.

FONSECA, C. De família, reprodução e parentesco: algumas considerações. Cadernos Pagu, Campinas, v. 29, p. 9-35, 2007.

GARRAU, M.; LE GOFF, A. Care, justice et dépendence: introduction aux théories du care. Paris: Universitaires de France, 2010.

GIDDENS, A. et al. Las consecuencias perversas de la modernidade. Tradução de Celso Sánchez Capdequí. Barcelona: Anthropos, 1996.

GILLIGAN, C. In a different voice: psycological theory and women´s development. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 1982.

GOFFMAN, E. Stigma: les usages sociaux du handicap. París: Minuit, 1975.

LATOUR, B. A esperança de pandora. Bauru: EDUSC, 2001.

LATOUR, B. Políticas da natureza: como fazer ciência na democracia. Bauru: EDUSC, 2004.

LOWY, I.; GARDEY, D. L’ Invention de naturel. Paris: Archives Contemporâneos, 2000.

MATHIEU, N. Identité sexuelle/sesueé/de sexe? In: MATHIEU, N. L’Anatomie politique. Paris: Cote Femmes, 1991. p. 17-55.

RAGO, E. J. A ruptura do mundo masculino da medicina: médicas brasileiras no século XIX. Cadernos Pagu, Campinas, n. 15, p. 199-225, 2000.

SPAR, D. L. O negócio de bebês: como o dinheiro, a ciência e a política comandam o comércio da concepção. Coimbra: Amedina, 2007.

SVENDSEN, M. N.; KOCH, L. Unpacking the ‘Spare Embryo’: facilitating stem cell research in a moral landscape. Social Studies of Science, v. 1, n. 38, 2008. Disponível em: <http://sss.sagepub.com/content/38/1/93>. Acesso em: 10 maio 2011.

TAMANINI, M. Novas tecnologias reprodutivas conceptivas: bioética e controvérsias, um ensaio. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 73-107, 2004.

TAMANINI, M. Novas tecnologias reprodutivas conceptivas: o paradoxo da vida e da morte. Revista Tecnologia e Sociedade, Curitiba, n. 3, p. 211-249, 2006.

TAMANINI, M. Reprodução assistida e gênero: o olhar das ciências humanas. Florianópolis: UFSC, 2009.

TAMANINI, M. Tecnologias reprodutivas conceptivas: imperativo da maternidade? Ou outro lugar de fala? In: RIAL, C.; PEDRO, J. M.; AREND, S. M. F. Diversidades: dimensões de gênero e sexualidade. Florianópolis: Ed. Mulheres, 2010. p. 209-231.

TIN, L. G. L´invention de la culture héterosexuelle. Paris: Éditions Autrement, 2008.

THERY, I. El anonimato en las donaciones de engendramiento: filiación e identidad narrativa infantil en tiempos de descasamiento. Revista de Antropologia Social, Madrid, v. 18, p. 21-42, 2009.

WALDBY, C. ‘Oöcyte markets: women’s reproductive work in embryonic stem cell research’. New Genetics and Society, v. 1, n. 2, p. 19-31, 2008.

WALDBY, C.; COOPER, M. The female body and the stem cell industries. Feminist Theory, University of Sydney, v. 1, n. 11, p. 3-22, 2010.

WEBER, M. Metodologia das ciências sociais. São Paulo: Cortez, 1992.

Downloads

Publicado

2012-10-06

Como Citar

Tamanini, M. (2012). Gendrificação, ciência e ética em contextos de experiência reprodutiva. Revista Pistis & Praxis, 4(1), 107–134. https://doi.org/10.7213/revistapistispraxis.6042

Edição

Seção

Dossiê