O mal-estar do ser na pandemia sob uma leitura teológica | The malaise of being in the pandemic under a theological reading
DOI:
https://doi.org/10.7213/2318-8065.05.02.p54-67Resumo
O problema do mal se apresenta como um grande desafio ao saber humano, principalmente à teologia como ciência do espírito, dado a abrangência de sua manifestação nas diversas dimensões da vida, na complexidade de sua compreensão e nas ameaças ao cuidado do ser. As circunstâncias enfrentadas na existência no mundo, que trazem à consciência humana o problema do mal, manifestam um mal-estar no ser e tocam na questão do sentido e na responsabilidade moral. A atual pandemia do coronavírus trouxe um mal-estar ao ser nestes tempos que desafia à compreensão do sentido da vida. Neste texto refletimos sobre o mal-estar da pandemia, seus possíveis reflexos sobre o sentido existencial do ser e buscamos um apoio teológico ao seu enfrentamento. Nossa reflexão parte da consideração da fragilidade do ser humano em face à pandemia, a partir de dados da pandemia obtidos de informações da imprensa e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em seguida a compreensão da situação atual toca na questão do sentido da vida e da responsabilidade moral, sob a ótica ontológica de tradição aristotélica e fenomenológica de Franz Brentano e Edmundo Husserl, e da filosofia existencial tal como em Kierkegaard, Paul Ricoeur e Albert Camus. Depois, com apoio em alguns textos bíblicos e sob uma hermenêutica teológica, busca-se a compreensão de uma forma de transcendência espiritual ao atual mal-estar. Finalmente, a reflexão objetiva apontar para uma compreensão mais ampla e profunda de saúde e vida.
Abstract
The problem of evil is presented as a major challenge to human knowledge, especially of the theology spirit of science, given the scope of its manifestation in the various dimensions of life, the complexity of their understanding and threats to the care of the self. The circumstances faced in existence in the world, which bring the problem of evil to human consciousness, manifest a malaise in being and touch on the question of meaning and moral responsibility. The current pandemic of the coronavirus has brought a malaise to being in these times that defies the understanding of the meaning of life. In this text we reflect on the malaise of the pandemic, its possible reflections on the existential sense of being and we seek theological support for its confrontation. Our reflection starts from considering the fragility of the human being in the face of the pandemic, based on data from the pandemic obtained from information from the press and the World Health Organization (WHO). Then the understanding of the current situation touches on the question of the meaning of life and moral responsibility, under the ontological perspective of Aristotelian and phenomenological tradition of Franz Brentano and Edmund Husserl, and of existential philosophy as in Kierkegaard, Paul Ricoeur and Albert Camus. Then, with support in some biblical texts and under a theological hermeneutics, an attempt is made to understand a form of spiritual transcendence to the present malaise. Finally, the objective reflection points to a broader and deeper understanding of health and life.
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