A mística como dessubjetivação e impropriedade de si:
análise de um relato sobre a monja Salê
DOI:
https://doi.org/10.7213/2318-8065.09.02.p5-15Resumen
A loucura simulada da freira Salê sinaliza a inadequação do eu como chave de reconhecimento. Sua indeterminação parte de um movimento de saída e êxtase que permeia a história sobre ela. Nesse sentido, a questão da dessubjetivação e da impropriedade do eu na multidão, a partir de um corpo público e comum, expressa conceitualmente a escória social de outros dissidentes, como os loucos. A freira trabalha e vive onde se produz lixo — na cozinha do convento —, que é um dos lugares de escória social, lugar de multidão. No abismo da multidão, o seu corpo público inverte o que seria uma apropriação identitária da individualidade. Portanto, seu encontro com o Outro despoja-se de si e a coloca em desamparo e despossessão. O desamparo rompe com os predicados identitários do reconhecimento liberal que nomeia atributos individualizantes subjacentes ao conceito de “pessoa”, pressupondo uma normatividade identitária das autopropriedades com o seu viés contratual. Dessa forma, a indeterminação imprópria como condição inesgotável da subjetividade contribui para repensar as políticas identitárias de reconhecimento.






