O benzedor de cobras

a intersecção entre fé, misticismo e medicina popular em Bariani Ortencio

Abstract

Esta pesquisa tem como objetivo analisar o conto “O Benzedor de Cobras, de Bariani Ortencio” à luz da vertente das Ciências da Religião e da Literatura, explorando a figura do benzedor como representação de práticas de cura mística no interior do Brasil. O conto, ambientado no sertão goiano, retrata um personagem que combina elementos do catolicismo popular com saberes tradicionais, atuando como intermediário entre o mundo espiritual e o mundo físico na cura de doenças cotidianas e no ato de espantar animais, pragas e animais peçonhentos como cobras e escorpiões. A análise procura entender como essa figura emerge como um símbolo de resistência cultural, ao mesmo tempo em que exemplifica o sincretismo religioso característico da religiosidade popular brasileira. A justificativa para a análise se apoia na relevância do papel de tais práticas não-institucionais, que ocupam um lugar importante na vida cotidiana de comunidades rurais, especialmente em contextos onde o acesso à medicina oficial é escasso. No Brasil, práticas como as do benzedor são comuns em regiões interioranas e dialogam com questões de identidade religiosa, saúde e bem-estar. Essas práticas, embora por vezes marginalizadas, revelam uma profunda compreensão do ser humano em sua relação com o sagrado (Geertz; Bourdieu; Eliade), tornando-as relevantes para os estudos interdisciplinares de religião e cultura. O problema central da pesquisa é investigar como o benzedor, representado na obra de Bariani Ortencio, funciona como um agente de cura que transcende os limites da medicina convencional, incorporando elementos religiosos e culturais. Ao fazer isso, o conto levanta questões sobre a legitimidade das práticas de cura mística e sua aceitação tanto pela comunidade quanto pelas instituições formais de saúde (Azevedo; Lemos). A hipótese que orienta o estudo é se a figura do benzedor não é apenas um reflexo do sincretismo religioso brasileiro, mas também uma resposta simbólica e prática às necessidades de saúde em comunidades com acesso limitado a serviços médicos, mantendo-se viva, por meio da oralidade e da fé. A metodologia adotada é a do estudo exploratório de caráter bibliográfico, com base na análise literária do conto em conjunto com teorias do campo das Ciências da Religião e Antropologia. A pesquisa também se apoiará em fontes secundárias sobre o folclore goiano e o papel dos benzedores na cultura popular. Os resultados esperados incluem uma compreensão mais aprofundada do benzedor como uma figura chave no campo da medicina popular e da religiosidade brasileira, bem como a contribuição para o debate sobre como práticas tradicionais e populares de cura podem ser legitimadas em diálogo com a ciência moderna. O estudo também espera destacar a importância da preservação cultural dessas tradições, não somente como elementos folclóricos, mas como práticas funcionais dentro do contexto rural brasileiro.