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AS PERCEPÇÕES, EM MOÇAMBIQUE, SOBRE O TRÁFICO DE ALBINOS E CALVOS NAS VERTENTES CULTURAL, ECONÓMICA E MÁGICO-RELIGIOSA

Autores

  • Rui Mulieca Migano

Resumo

 

Em Moçambique, o fenómeno do tráfico humano de pessoas albinas e calvas para fins de extracção e uso de órgãos tem sido lido e explicado sob três pontos de vista: cultural, económica e mágico-religiosa. Dado que cada sociedade tem sua cultura que se manifesta nos hábitos, usos e costumes, Moçambique não será diferente ler e interpretar os fenómenos que ocorrem no seio meio, sem recorrer as vertentes cultural, económica e mágico-religiosa, se tivermos em conta que, o seu Povo tem uma história ligada ao tráfico humano cujas finalidades eram as trocas comerciais e uso de partes humanas em poções mágicas e religiosas. Portanto, a vertente cultural do tráfico de pessoas portadoras de albinismo e calvície vem manifestar que o albino é um ser diferente da maior parte das pessoas que constituem a sociedade e, tanto no passado como hoje, o albino tem sido considerado um ser humano que atrai mau agouro para a família e que a sua morte tida por misteriosa, chegando a ser considerado como um ser que não morre mas sim, que desaparece. Hoje, esse ser humano que atrai azar para os que lhe são mais próximos, é, ao mesmo tempo, um ser apetecível para trazer riqueza para a família e/ou seus traficantes. Quanto ao homem portador de calvície, a cultura africana em geral e moçambicana, em particular, considerou-o sempre como possuidor de sabedoria, isto é, uma pessoa sábia, dotada de valores éticos e humanos, a quem se devia recorrer para ajudar a resolver um enigma, um problema pessoal ou familiar. O homem portador de calvície, foi sempre considerado como um homem capaz de liderar com equidade, aplicando a justiça e o direito. Mas hoje essas qualidades que caracterizavam aos portadores de calvície, já não são relevantes, considerando-se a cabeça do homem calvo como possuidora de mercúrio, uma substância que dá riqueza. No que se refere à vertente económica, tanto o albino como o calvo são hodiernamente considerados mercadoria (produto por comercializar), como objectos de relações de compra e venda (mercantilização), sendo que seus órgãos são quantificáveis a preços altíssimos e enriquece os seus usuários. As diferenças existentes nesses seres humanos constituem oportunidades de negócio e, consequentemente, ocasião de riqueza e alívio da situação da pobreza. Existe o mito que, vendendo órgãos de pessoas albinas e calvas, pode-se melhorar a vida económica decadente do indivíduo e/ou da família, sendo o dinheiro, o elemento central. Daqui surgem os maus conselheiros e os falsos modelos. Na vertente mágico-religiosa, há crenças que atribuem aos albinos e calvos poderes mágicos e é seguindo e observando os ditames emanados por essas crenças, que a pessoa ou o traficante pode organizar e melhorar a sua vida e lutar contra as forças contrárias que trazem azar, doenças e outros infortúnios para a família. Neste aspecto, o curandeiro e o charlatão constituem as figuras centrais para a preparação dos medicamentos a partir de partes ou órgãos de albinos e calvos e ditam os critérios e requisitos para a sua boa administração, assim como os benefícios que dele podem resultar. Deste modo, quem se junta a essas práticas, cultiva uma espécie de fé e crença numa espécie de divindades que dão respostas aos pedidos dos seus usuários a partir do sacrifício de pessoas albinas e calvas. Todavia, importa fazer reparo que a dimensão religiosa é caracterizada por rituais satânicos que podem desvirtuar a essência do fenómeno religioso habitualmente conhecido.

    

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Biografia do Autor

Rui Mulieca Migano

         

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Publicado

2023-09-01

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Como Citar

Migano, R. M. (2023). AS PERCEPÇÕES, EM MOÇAMBIQUE, SOBRE O TRÁFICO DE ALBINOS E CALVOS NAS VERTENTES CULTURAL, ECONÓMICA E MÁGICO-RELIGIOSA. Caderno Teológico Da PUCPR, 7(1). Recuperado de https://periodicos.pucpr.br/cadernoteologico/article/view/27909