Satã espião e acusador, do imperialismo persa para a Bíblia Hebraica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.7213/2175-1838.17.003.DS07

Palavras-chave:

Satã, Aquemênidas, Jó 1-2, Zacarias 3,1-3, 1Crônicas 21,1

Resumo

O artigo analisa o termo satã (satan) na Bíblia Hebraica, como “o adversário”, no contexto de domínio persa aquemênida sobre a província de Yehud, com as consequências para a origem e evolução do conceito bíblico. A análise se concentra sobre três passagens. Na Primeira (Jó 1,6-12; 2,1-7), satã, entre a corte celeste e a Terra, espia a integridade de Jó. Na segunda (Zc 3,1-3), aparece como acusador, entre o anjo de Yhwh e o sumo sacerdote Josué. Na terceira (1Cr 21,1), único caso em que satã aparece sem artigo, como nome próprio, substitui “a ira de Yhwh” (2Sm 24,1) contra Israel, induz Davi ao recenseamento. A hipótese é que a figura de satã se inspira no sistema administrativo da corte persa, identificado com o personagem que representava o “olho do rei” ou “espia”, acusador de atos de rebelião. Objetiva demonstrar a influência persa sobre o conceito bíblico de satã, originalmente como um ser humano acusador, em contexto político, que assume, posteriormente, a característica teológica de ser celestial, inimigo de Deus. Resulta daí uma discussão sobre a influência persa sobre a demonologia do judaísmo e do cristianismo, nos níveis da política persa, da religião do Zoroastrismo e da teologia judaica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Valmor da Silva, PUC-Goiás

Mestre em Teologia Bíblica (Pontifícia Universidade Gregoriana) e em Exegese Bíblica (Pontifício Instituto Bíblico). Doutor em Ciências da Religião (UMESP). Pós-Doutor em Teologia (Faculdade Jesuíta). Professor titular do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião da PUC Goiás.

Referências

BALCER, Jack Martin. The Athenian Episkopos and the Achaemenid ‘King’s Eye’. The American Journal of Philology, v. 98, n. 3, p. 252-263, 1977.

Bíblia de Jerusalém. 19ª impressão. São Paulo: Paulus, 2024.

Biblia Hebraica Stuttgartensia (BHS). KITTEL, Rudolf (Ed.). Editio quarta emendata opera H. P. Rüger. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997.

Bíblia Tradução Ecumênica (TEB). São Paulo: Loyola, 1994.

BROWN, Derek R. The Devil in the Details: A Survey of Research on Satan in Biblical Studies. Currents in Biblical Research, v. 9, n. 2, p. 200-227, 2001.

DIETRICH, Luiz José. O grito de Jó. São Paulo: Paulinas, 1996.

DÜCK, Arthur Wesley. Satanás no Antigo Testamento. Revista Batista Pioneira, v. 2, n. 1, p. 135-157, 2013.

EVANS, Paul. Divine Intermediaries in 1 Chronicles 21. An Overlooked Aspect of the Chronicler’s Theology. Biblica, v. 85, n. 4, p. 545-558, 2004.

GANOCZY, Alexandre. La métaphore diabolique. Revue de Sciences Religieuses, v. 89, n. 4, p. 511-525, 2001.

GORGULHO, Gilberto. Zacarias: a vinda do Messias Pobre. Petrópolis: Vozes; Metodista; Sinodal, 1985. (Comentário Bíblico).

GRUENTHANER, M. J. The Demonology of the Old Testament. Catholic Biblical Quarterly, v. 6, p. 6-27, 1944.

HABEL, Norman C. The Book of Job: A Commentary. Philadelphia: The Westminster Press, 1985.

HARTLEY, John E. The Book of Job (NICOT). Michigan: Eerdmans, 1988.

JAPHET, Sara. The Ideology of the Book of Chronicles and Its Place in Biblical Thought. Winona Lake: Eisenbrauns, 2009.

JONKER, Louis C. ‘Satan Made Me Do It!’: The Development of a Satan Figure as Social-Theological Diagnostic Strategy from the late Persian Imperial Era to Early Christianity. Old Testament Essays (New Series), v. 30, n. 2, p. 348-366, 2017.

KILPP, Nelson. Os poderes demoníacos no Antigo Testamento. Estudos Bíblicos, Petrópolis, v. 74, p. 23-36, 2002.

LELLIS, Nelson. “Deus é bom e o Satan é mau”: encontros e construções na fé judaica. Unitas, v. 1, p. 112-120, 2014.

LIMBECK, Meinrad. As raízes da concepção bíblica acerca do diabo e dos demônios. Revista Concilium, Petrópolis, v. 103, p. 282-294, 1975.

NAKANOSE, Shigeyuki. Reescrevendo história – Uma leitura dos livros das Crônicas. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana/RIBLA, v. 52, n. 3, p. 184-197, 2005.

PRÉVOST, Jean-Pierre. Dizer ou maldizer seu sofrimento? As tramas do livro de Jó. São Paulo: Paulinas, 1997.

RIBEIRO, Osvaldo Luiz. Nem ‘diabo’ nem ‘celeste’: considerações sobre a figura do satan em Zacarias 3.1-10. Estudos Teológicos, v. 54, n. 2, p. 312-320, 2014.

ROSSI, Luiz Alexandre Solano. A pax persica: o contexto imperial persa. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana/RIBLA, v. 81, n. 1, p. 11-19, 2020.

RUSSEL, J. O diabo: as percepções do mal da antiguidade ao cristianismo primitivo. Rio de Janeiro: Campus, 1991.

SCHIAVO, Luigi. O mal e suas representações simbólicas: o universo mítico e social das figuras de Satanás na Bíblia. Estudos da Religião, São Bernardo do Campo, v. 15, n. 19, p. 65-83, 2000.

SCHIAVO, Luigi. O simbólico e o diabólico: a vida ameaçada. Phoînix, Rio de Janeiro, v. 8, p. 230-243, 2002. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/phoinix/article/view/33233 Consulta em 29/05/2025.

SCHIAVO, Luís; SILVA, Valmor da. Jesus, milagreiro e exorcista. São Paulo: Paulinas, 2002.

SCHWIENHORST-SCHÖNBERGER, Ludger. Um caminho através do sofrimento: o livro de Jó. São Paulo: Paulinas, 2017. (Cultura Bíblica).

SILVA, Valmor da. Quando anjos e demônios eram criaturas de Deus. In: ROSSI, Luiz Alexandre Solano; SILVA, Valmor da (Orgs.). Anjos e demônios na Bíblia. São Paulo: Paulus, 2022. v. 1. p. 9-22. (Coleção Temas Bíblicos).

SILVERMAN, Jason M. Vetting the Priest in Zechariah 3: The Satan between Divine and Achaemenid Administrations. Journal of Hebrew Scriptures, v. 14, p. 1-28, 2014.

TATE, Marvin E. Satan in the Old Testament. Review & Expositor, v. 89, p. 461-474, 1992.

TERRIEN, Samuel. Jó. São Paulo: Paulus, 1994. (Grande Comentário Bíblico).

WANKE, G. śāṭān Adversário. In: JENNI, Ernst e WESTERMANN, Claus. Dicionário teológico manual del Antiguo Testamento. Vol. 2. Madrid: Ediciones Cristiandad, 1985. Col. 1032-1035.

Downloads

Publicado

2025-12-09

Como Citar

da Silva, V. (2025). Satã espião e acusador, do imperialismo persa para a Bíblia Hebraica. Revista Pistis & Praxis, 17(3), 476–486. https://doi.org/10.7213/2175-1838.17.003.DS07