A Baalização de Javé em perspectiva decolonial
DOI:
https://doi.org/10.7213/2175-1838.16.003.DS06Resumo
Este artigo analisa a transformação que ocorreu na religião de Israel – especialmente no culto a Baal e a Javé – no processo de implantação da monolatria em Israel, pela violenta intervenção religiosa e política dos reis Ezequias (716 – 687 a.C.) e Josias (640 – 609 a.C.). Estes dois reis visaram pôr fim à antiga e tradicional vivência religiosa de Judá e de Israel, na qual predominava grande diversidade de locais de culto, vários Deuses e Deusas, muitas famílias sacerdotais e uma variedade de liturgias e cultos, e de mediadoras e mediadores. Eles centralizaram Jerusalém como o único local de culto permitido (Dt 12,1-12) e estabeleceram Javé como o único Deus de Israel (Dt 13,1-18), proibindo o culto às outras divindades, banindo e destruindo suas imagens e santuários, inclusive matando sacerdotes. Com isso, as atribuições das antigas divindades agora proibidas – que “cuidavam” de parte das necessidades vitais do povo, como a fertilidade dos campos, das pessoas e dos animais – tiveram de ser transferidas, na religião oficial, para Javé. Este artigo foca na transferência dos atributos e funções de Baal para Javé. Javé, agora “oficializado” como a única Divindade de Israel, deverá dar conta das funções anteriormente exercidas pelo conjunto dos Deuses e Deusas proibidas. A transposição dos atributos de Baal para Javé é crucial para a imposição da monolatria, e isto aparece em vários textos da Bíblia Hebraica. Um desses textos é o capítulo 28 do livro do Deuteronômio, nas “bênçãos” e “maldições” que finalizam a aliança que estabelece Javé como o único Deus de Israel, e Israel como povo exclusivo de Javé. Este artigo focará especialmente neste capítulo do livro do Deuteronômio. Como o culto oficial, seja a Javé, Baal ou a outra divindade, tem sempre a mesma função: legitimar os projetos e interesses da elite representada na corte, uma teologia decolonial deverá então apoiar-se não na teologia oficial, mas na teologia vital que disseminou o culto a tal divindade, tornando-a extremamente popular e importante.
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