É desse Amor que eu sofro. Hermenêutica feminina da experiência mística – a Minne Medieval em Hadewijch da Antuérpia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.7213/2175-1838.13.espec.DS12

Palavras-chave:

Hadewijch da Antuérpia. Martin Heidegger. Minne Medieval. Experiência mística.

Resumo

Hadewijch dialoga com os pensadores do patrimônio medieval cristão de maneira íntima, dada a sua erudição, ousando inserir aspectos absolutos em sua experiência, oferecendo, em sua obra, a possibilidade de uma hermenêutica feminina do Amor, a Minne medieval, que sustenta uma vida de ser Deus com Deus, não sem antes atravessar uma fisiologia humana e natural que sobrevive à dissolução de si mesma. Para tanto, pretende-se fazer uso dos Fundamentos filosóficos da mística medieval (1919/1920), de Martin Heidegger, para abordar fenomenologicamente a experiência mística de Hadewijch da Antuérpia, sem pretender com isso desmistificar a mística, ou seja, aceitá-la como um objeto de pesquisa filosófica, mas encontrar nessa experiência da Presença de Deus que a beguina da Antuérpia experimenta e relata, um solo de abertura para a realização prévia da experiência fundamental. A indagação filosófica de Hadewijch a Heidegger está implícita em sua experiência humana com Deus como aquela que é origem do próprio filosofar porque ela enfrenta a derrota da razão nesse empreendimento poético, visionário e epistolar. A mística, enquanto objeto de pesquisa, será sempre uma crítica à ciência porque não se deixa capturar pela construção teórica, pois é absorvida pelo indelével, pelo indizível e por desdobramentos filosóficos amplos demais que vão desde a conduta reta dos ímpios ou o desejo ao bem — o único e o maior bem —, ao próprio niilismo que aponta para o Amor, não somente como o êxtase desejado e alcançado, mas com seu maior desdobramento em ser autêntico e revelador da realidade humana exilada no Amor por causa do Amor. É desse Amor que ela sofre.

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Biografia do Autor

Maria José Caldeira do Amaral, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Doutora em Ciências da Religião (PUC-SP) com estágio pós-doutoral em Teologia (PUC-PR). Coordenadora do Grupo de Pesquisa "A experiência mística e o conhecimento" (LABO/FUNDASP/PUC-SP).

Alex Villas Boas, Universidade Católica Portuguesa

Investigador principal e coordenador executivo do CITER (Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião), da Universidade Católica Portuguesa. É professor convidado do Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC-PR.

Luís Gabriel Provinciatto, Universidade Federal de Juiz de Fora / Universidade de Évora

Doutorando em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora com bolsa de financiamento CAPES e em Filosofia pela Universidade de Évora com bolsa de mérito científico para estudantes internacionais. Mestre em Ciências da Religião e licenciado em Filosofia, ambos pela PUC-Campinas.

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Publicado

2021-03-31

Como Citar

Amaral, M. J. C. do, Villas Boas, A., & Provinciatto, L. G. (2021). É desse Amor que eu sofro. Hermenêutica feminina da experiência mística – a Minne Medieval em Hadewijch da Antuérpia. Revista Pistis & Praxis, 13. https://doi.org/10.7213/2175-1838.13.espec.DS12