A Kénosis do Espírito Santo e a refiguração ecológica: Um olhar pneumatológico à Luz da Laudato Si'

Resumen

Este artigo investiga a ação do Espírito Santo na criação e sua relação com a refiguração ecológica, à luz da Encíclica Laudato Si’. A partir de uma compreensão trinitária, destaca-se o papel do Ruah divino como expressão da autodoação amorosa de Deus, que permeia, sustenta e vivifica toda a criação. O Espírito Santo, enquanto relação, comunhão e amor, é o princípio vital que anima todas as criaturas e fundamenta o ethos ecológico proposto pela Laudato Si’. Inspirando-se no pensamento de Sergei Bulgakov, o artigo explora como a kénosis do Espírito Santo, entendida como expressão da humildade divina que se doa para vivificar e renovar a criação, manifesta-se na história da salvação. Tal kénosis está intrinsecamente ligada à do Filho, revelando a dinâmica trinitária da autodoação, que convoca a humanidade a uma solidariedade universal, capaz de transcender o individualismo e promover a justiça ecológica. Nesse horizonte, o Cristo cósmico, enquanto centro da criação, é apresentado como a chave para compreender a unidade entre a obra do Filho e a missão do Espírito. O Espírito é, assim, apresentado como princípio de unidade e renovação da criação, mediador de uma espiritualidade encarnada que fundamenta a refiguração ecológica — aqui compreendida como um processo de transformação ética, espiritual e relacional, que integra o cuidado da Casa Comum à experiência da fé. Na criação e na história, Ele atua como força transformadora, conduzindo a humanidade ao reconhecimento da dignidade de todas as criaturas e da urgência de um cuidado integral com o mundo. A Laudato Si’ ilumina essa dinâmica ao apresentar a ecologia integral não apenas como uma questão ambiental, mas como expressão do amor divino e do cuidado compassivo de Deus, mediado pelo Espírito e vivido na comunhão da Igreja. Conclui-se que uma pneumatologia da kénosis oferece um horizonte teológico fundamental para enfrentar os desafios ecológicos contemporâneos, promovendo uma espiritualidade que integre criação, refiguração ecológica e transformação social. Nessa perspectiva, o Espírito Santo é reafirmado como renovador da vida, sustentador da esperança e inspirador de um compromisso ético com a justiça socioambiental.