Religio cordis brasiliensis e espaço público: entre a rejeição, a dinamização e a indiferença diante de um projeto de cristianismo cidadão
DOI:
https://doi.org/10.7213/revistapistispraxis.07.001.ao02Palavras-chave:
Religio cordis, Espiritualidade, Esfera pública, Cidadania.Resumo
A religião cordis é uma expressão transconfessional da fé cristã que marcou o Brasil desde a época colonial até a fase ultramontanista e que ganhou adeptos protestantes, especialmente evangélicos (reprodução do livro emblemático do autor católico Johannes Evangelista Gossner por presbiterianos, metodistas, batistas, luteranos e pentecostais; uso do coração em logotipos da Igreja Metodista Wesleyana e da Igreja Universal do Reino de Deus).Todos esses movimentos eram, em território brasileiro, ou defensores da escravidão, ou inimigos da República, ou ficaram longe das lutas sociais, senão até colaboraram com a ditadura. Essa constatação me levou à afirmação de que a religio cordis brasiliensis poderia ser chamada de religião cordial, a religião do “homem cordial”, segundo o uso de S. Buarque de Holanda; em outras palavras: uma religiosidade antirrepublicana. Por outro lado, há uma linha da religio cordis pouco explorada no Brasil. Nos séculos XII e XIII, surgiu uma forma feminina da religio cordis na base das cantigas dos trovadores, cujas proponentes se tornaram pessoas públicas; na Reforma, criou-se uma vertente não misticista da religio cordis. Isso começa com os brasões de Lutero e de Calvino e evidencia-se especialmente pelos livros emblemáticos da calvinista Georgette de Montenay e do luterano Daniel Cramer, bem como, no século XVIII, pela forma como John Wesley reconecta afetividade e presença profética, por exemplo, em sua luta contra a escravidão. Finalmente, houve, no século XX, tentativas protestantes e católicas sérias de reler a religio cordis como modelo para um engajamento cristão não tecnocrata nem burocrata, mas solidário.
Religio cordis. Espiritualidade. Esfera pública. Cidadania.
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