Chamada especial: Acessibilidade e interseccionalidade como desafios à mobilidade cotidiana em cidades latino-americanas

2024-12-05

Nas cidades contemporâneas, o acesso a atividades econômicas, sociais, ambientais e culturais está amplamente condicionado à renda das famílias e à sua localização residencial, de modo que sua condição social define suas dinâmicas de mobilidade (Miralles-Guasch & Cebollada, 2009). A provisão de serviços básicos, que possibilitam uma melhor qualidade de vida (Villar-Uribe, 2021), também apresenta variações significativas entre diferentes grupos sociais. As práticas sociais refletem um impacto baseado em relações desiguais de poder, o que pode limitar a acessibilidade das pessoas às atividades e locais (Jirón, 2011). Da mesma forma, a habitação em zonas periféricas dificulta o acesso a determinados serviços e atividades, ampliando as distâncias (González & González, 2022).

O conceito de acessibilidade começou a ser estudado na década de 1950 e é definido como o potencial de utilização e aproveitamento das oportunidades oferecidas por instituições políticas, sociais, econômicas e culturais, em relação estreita com as localizações espaciais em um território determinado (Bertolini, le Clercq, & Kapoen, 2005; Farrington, 2007). A acessibilidade refere-se principalmente às possibilidades dos membros de uma sociedade de desfrutarem, de forma irrestrita, das oportunidades oferecidas pela cidade, contribuindo para garantir o direito à cidade, entendido como o direito de todos os cidadãos ao usufruto das diversas oportunidades disponíveis no território urbano (Lefèbvre, 1968). Mais especificamente, o direito à mobilidade concebe os deslocamentos cotidianos como uma forma de cidadania que apropria o espaço público e promove uma certa justiça espacial (Verlinghieri & Venturini, 2018).

No entanto, fatores interseccionais, como gênero, idade, etnia e cultura, podem gerar barreiras adicionais à acessibilidade (Uteng & Cresswell, 2008). Com efeito, as condições de acessibilidade e mobilidade podem expressar desigualdades significativas relacionadas ao gênero, identidade étnico-cultural ou idade, que, somadas à condição social e localização, configuram cenários de injustiça espacial. Assim, o conceito de interseccionalidade (Collins et al., 2021) é fundamental para compreender como diferentes marcadores de identidade se cruzam e interagem, moldando experiências sociais e relações de poder. Ademais, esse conceito permite investigar como estruturas e práticas sociais reproduzem desigualdades e opressões, levantando questões sobre as possibilidades de acesso à cidade.

Este número especial busca receber contribuições que abordem o tema central da acessibilidade por meio da mobilidade cotidiana, com especial atenção para uma abordagem interseccional, evidenciando condições ou identidades que agravam cenários de injustiça espacial. Dessa forma, esta chamada conecta-se à publicada recentemente na edição 16 da revista urbe, que se concentrou em explorar desigualdades urbanas em suas diversas dimensões espaciais e sociais.

 

 

Período de submissão de artigos: De 5 de dezembro de 2024 a 5 de abril de 2025.

 

Editoras/es convidadas/os:
Carlos A. Moreno, Universidad Piloto de Colombia.
Geisa Bugs, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Brasil.
Maëlle Lucas, Universidad de Rennes 2, França.
Pablo Vega Centeno, Pontificia Universidad Católica del Perú.

 

Referências
Bertolini, L., le Clercq, F., & Kapoen, L. (2005). Sustainable accessibility: a conceptual framework to integrate transport and land use plan-making. Two test-applications in the Netherlands and a reflection on the way forward. Transport Policy, 12, 207–220.Farrington, J. H. (2007). The new narrative of accessibility: its potential contribution to discourses in (transport) geography. Journal of Transport Geography, 15(5), 319–330.
González, M., & González, S. (2022). Proximidade e mobilidade no habitar da periferia urbana: uma experiência entrópica dos guardiões de propriedades. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, v.14.
Jirón, P. (2011). Mobility Practices in Santiago de Chile: The Consequences of Restricted Urban Accessibility. In: The politics of proximity. Routledge.
Lefèbvre, H. (1968). El derecho a la ciudad (Anthropos). Paris.
Miralles-Guasch, C., & Cebollada, A. (2009). Movilidad cotidiana y sostenibilidad, una interpretación desde la geografía humana. Boletín de La AGE, 50, 193–216.
Verlinghieri, E., & Venturini, F. (2018). Exploring the right to mobility through the 2013 mobilizations in Rio de Janeiro. Journal of Transport Geography, 67, 126-136.
Villar-Uribe, J.R. (2021). Modernização do transporte público na periferia urbana: o fim do transporte informal? Estudo de caso: sistema de teleférico Transmicable na localidade de Ciudad Bolívar, Bogotá - Colômbia. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, 13.
Uteng, T. P., & Cresswell, T. (Eds.). (2008). Gendered mobilities (p. 270). Aldershot: Ashgate.