Vergonha e corpo na contemporaneidade: reflexões para a oncologia pediátrica

Autores

  • Milena Dórea de Almeida Doutora pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Professora da Faculdade Metropolitana de Camaçari
  • Léia Priszkulnik Professora Doutora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). Docente e orientadora da Graduação e Pós-Graduação do Departamento de Psicologia Clínica do IPUSP

DOI:

https://doi.org/10.7213/psicolargum.36.91.AO07

Palavras-chave:

Oncologia Pediátrica, Sobreviventes de Câncer, Vergonha, Corpo, Psicanálise

Resumo

O câncer infanto-juvenil é um termo genérico para descrever diferentes malignidades que causam efeitos destrutivos no organismo devido a seu caráter invasivo e metastático, apresentando especificidades diferentes do câncer adulto. Considerando os aspectos emocionais de sobreviver ao câncer pediátrico, destaca-se que há um pequeno número de pesquisas qualitativas que investigam, em profundidade, a vivência do adulto sobrevivente e poucas no campo da Psicanálise. Este trabalho objetiva oferecer subsídios para a formulação de novas modalidades de tratamento pelos profissionais que lidam com pacientes com câncer infanto-juvenil. A concepção de investigação que embasa este trabalho é o modelo de pesquisa qualitativa em psicanálise, cuja preocupação essencial é com o sujeito do inconsciente e com suas vivências e representações singulares. Foram realizadas entrevistas abertas que investigaram os sentidos e significados que adultos, sobreviventes de tumor do sistema nervoso central na infância, atribuem às suas experiências de vida durante o adoecimento e após o término do tratamento oncológico; a análise delas assinala que o tema da vergonha aparece como queixa dos entrevistados, e ela norteia as discussões. A vergonha é decorrente de uma timidez excessiva, que leva a um medo exagerado de contato social e afeta o corpo. A psicanálise associa a vergonha à ferida narcísica e este artigo avança sobre as questões contemporâneas do corpo, apresentando discussões e propostas para novas modalidades de tratamento. Essas, ao serem ofertadas pelo psicanalista, podem contribuir para a assistência desses casos no âmbito da saúde pública, tanto nos ambulatórios como nos hospitais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Almeida, M. D. (2017). Sobreviventes de câncer infanto-juvenil: Contribuições da Psicanálise e novos dispositivos clínicos. (Tese de doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo). Recuperado de http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-25042017-091726/en.php

Birman, J. (2014). Drogas, performance e psiquiatrização na contemporaneidade. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 17 (spe), 23-37. https://dx.doi.org/10.1590/S1516-14982014000300003

Birman, J. (2016, 08 de dezembro). Amor de si e amor do outro. Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos. Recuperado de https://www.youtube.com/watch?v=TaYWfbIye-Y

Brown, M., Levitt, G., Frey, E., Bárdi, E., Haupt, R., Hjorth, L. et al (2015, November). The Views of European Clinicians on Guidelines for Long-Term Follow-Up of Childhood Cancer Survivors. Pediatr Blood Cancer; 62 (2), 322 – 328. Recuperado de http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/pbc.25310/epdf

Calligaris, C. (2006, 02 de fevereiro). Culpa e vergonha. Folha de São Paulo. Recuperado de www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0202200622.htm

Contemporâneo (c2009 - 2018). In Dicionário online de português. Recuperado de https://www.dicio.com.br/contemporaneo/

Costa, J. (2012) Os sobrenomes da vergonha: melancolia e narcisismo. In: J. Verztman, R. Herzog, T. Pinheiro & F. Pacheco-Ferreira (Orgs.). Sofrimentos narcísicos. (pp. 9-15). Rio de Janeiro: Cia de Freud: UFRJ; Brasília, DF: CAPES PRODOC. Recuperado de http://nepecc.psicologia.ufrj.br/files/livro_sofrimentosnarcisicos.pdf

Debord, G. (1997). A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. (E. Abreu, trad.) Rio de Janeiro: Contraponto.

Dunker, C. (2015, 08 de maio). Mal-estar, sofrimento e sintoma. Café Filosófico. Recuperado de https://vimeo.com/127741380.

Dunker, C. (2016, 22 de maio). Qual é a relação entre depressão e melancolia?. Falando nisso, n. 23. Recuperado de https://www.youtube.com/watch?v=41kGuYcG2eA

Elia, L. (2000). Psicanálise: clínica & pesquisa. In: S. Alberti & L. Elia (orgs.). Clínica e pesquisa em psicanálise. (pp. 19-36) Rio de janeiro: Rios Ambiciosos

Farah, B. (2012) Depressão e vergonha: contrafaces dos ideais de iniciativa e autonomia na contemporaneidade. In: J. Verztman, R. Herzog, T. Pinheiro & F. Pacheco-Ferreira (Orgs.). Sofrimentos narcísicos. (pp. 185-206). Rio de Janeiro: Cia de Freud: UFRJ; Brasília, DF: CAPES PRODOC. Recuperado de http://nepecc.psicologia.ufrj.br/files/livro_sofrimentosnarcisicos.pdf

Fernandes, M. H. (2011) Corpo (4ª. ed., Coleção clínica psicanalítica) São Paulo: Casa do Psicólogo.

Freud, S. (1996). Sobre o narcisismo: uma introdução. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. (J. Salomão trad., vol. XIV, pp. 75-113) Rio de Janeiro: Imago (Trabalho original publicado em 1914)

Lacan, J. (1998) O estádio do espelho como formador da função do eu. In Escritos. (V. Ribeiro, trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

Laplanche, J. & Pontalis, J. (2001). Narcisismo. In Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.

Leclaire, S. (1977). Mata-se uma criança: um estudo sobre o narcisismo primário e a pulsão de morte. Rio de Janeiro: Zahar Editores

Magalhães, M. M. S. & Azevedo, F. G. S.. (2016, Dezembro). A (de)pressão e a contemporaneidade: notas sobre o sintoma social. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde. 5 (2), 215-226. doi: http://dx.doi.org/10.17267/2317-3394rpds.v5i2.1046

Pacheco-Ferreira, F. (2012) Algumas questões sobre a angústia e sua relação com a vergonha. In: J. Verztman, R. Herzog, T. Pinheiro & F. Pacheco-Ferreira (Orgs.). Sofrimentos narcísicos. (pp. 165-184). Rio de Janeiro: Cia de Freud: UFRJ; Brasília, DF: CAPES PRODOC. Recuperado de http://nepecc.psicologia.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/04/livro_sofrimentosnarcisicos.pdf.

Priszkulnik, L. (2011) O Corpo e as atividades físicas: contribuições da Psicanálise. In: E. S. N. Lange & L. Tardivo. (Org.). Corpo, Alteridade e Sintoma: Diversidade e Compreensão. (1ª. ed., pp. 139-160) São Paulo: Vetor Editora Psicopedagógica Ltda.

Rosa, M. (2004, setembro). A pesquisa psicanalítica dos fenômenos sociais e políticos: metodologia e fundamentação teórica. Revista mal-estar e subjetividade - Fortaleza. IV (2), pp. 329-348

Venturi, C & Vertman, J. (2012). Interseções da vergonha na cultura, na subjetividade e na clínica atual. In: J. Verztman, R. Herzog, T. Pinheiro & F. Pacheco-Ferreira (Orgs.). Sofrimentos narcísicos. (pp. 119-147). Rio de Janeiro: Cia de Freud: UFRJ; Brasília, DF: CAPES PRODOC. Recuperado de http://nepecc.psicologia.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/04/livro_sofrimentosnarcisicos.pdf

Verdélio, A. (2016, 15 de fevereiro). Câncer infantil: taxa de cura no Brasil é a mesma há 30 anos. Agência Brasil. Recuperado de http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-02/cancer-infantil-taxa-de-cura-no-brasil-e-mesma-ha-30-anos.

Zygouris, R. (1995). A vergonha de si. In: Ah! As belas lições! (C. Koltai, trad., pp. 159-172) São Paulo: Escuta. (Trabalho original publicado em 1988)

Downloads

Publicado

2019-11-05

Como Citar

Almeida, M. D. de, & Priszkulnik, L. (2019). Vergonha e corpo na contemporaneidade: reflexões para a oncologia pediátrica. Psicologia Argumento, 36(91), 122–139. https://doi.org/10.7213/psicolargum.36.91.AO07

Edição

Seção

Artigos