Pensar, sentir e agir: interpelações e perplexidades no contexto da pandemia do novo coronavírus
DOI:
https://doi.org/10.7213/cd.a8n13p177-192Palavras-chave:
Pandemia. Mal. Liberdade humana. Coronavírus.Resumo
Pretende-se com este artigo refletir a partir de algumas nuances do pensamento do filósofo Paul Ricoeur, que podemos chamar de dimensão estrutural da pandemia do novo coronavirus. Daí, significa que é possível pensar, sentir e agir para além das polêmicas levantadas em relação a sua origem. O essencial é vincular a reflexão hermenêutica sobre a dimensão estrutural da pandemia que a coloca ao lado da reflexão sobre a questão dos males físicos e cósmicos, dado que o mal, constituído de um caráter misterioso, é um pilar na reflexão filosófica de Ricoeur. Ressalta-se que aproximar-se fenomenologicamente do mal físico ou cósmico exige que se ponha e se caminhe em direção a uma visão ética do mundo que permita recuperar a perspectiva utópica do Reino de Deus como ideal de humanidade, capaz de dar a ação econômica, social e política um enfoque humano. Para Ricoeur, a compreensão do mal está intimamente ligada à liberdade humana. Por fim, o artigo procura articular como emergência reflexiva resultante do novo coronavirus a dimensão estrutural da pandemia e o emergente cuidado aos povos indígenas do Brasil, principalmente diante de um “grande genocídio silencioso” que coloca em xeque o futuro do humano dos povos circundantes da Amazonas.
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