Culto dos monumentos históricos e projeto imperial na década de 1940: Negociando um passado colonial em Maputo e além
Palabras clave:
Moçambique. Estado Novo. Eleição do património. Restauro dos monumentos.Resumen
A história nacional, do período colonial, celebrada nos memoriais da cidade de Lourenço Marques (renomeada Maputo em 1976), recaía nos triunfos da Ocupação e dos seus heróis, no esforço de Guerra, nos feitos extraordinários, elementos comuns à maioria das histórias nacionais e aos vários projetos imperiais das potências europeias ao longo do século XX. O que foi nessa altura símbolo das conquistas do país colonizador tornou-se uma herança problemática na véspera da Independência. A ressemantização do espaço público e a omissão de muito desse espólio, que abrange edifícios, pedaços de cidade e vivências urbanas, tornaram evidente a transferência de poder e um novo projeto político-cultural que procurava contrastar heranças do colonialismo. O texto descreve sucintamente a construção de memoriais e a eleição dos monumentos (da colonização) em Moçambique durante a primeira década do Estado Novo português (1933-1974), de forma a refletir sobre a interpretação e validação contemporâneas desse patrimônio em Moçambique. A pesquisa desenrolada em 2014 e 2019 sobre estudos urbanísticos, projetos de restauro de monumentos e legislação do patrimônio de Moçambique das primeiras décadas do século XX, permite estabelecer paralelismos com outras experiências coloniais e, de forma mais significativa, com a discussão atual sobre a conservação de patrimônios “dissonantes”.
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