Desafios contemporâneos da orientação profissional e de carreira (OPC): a interseccionalidade como estratégia compreensiva

Autores

DOI:

https://doi.org/10.7213/psicolargum.39.103.AO05

Palavras-chave:

Orientação vocacional, epistemologia, justiça social, diálogo intercultural, autodeterminação.

Resumo

A orientação profissional e de carreira (OPC) tem focado suas pesquisas e práticas em pessoas das classes média e alta, com base nas concepções de liberdade de escolha e estratégias de adaptação ao mundo do trabalho propostas pelas teorias do mainstream da área, num movimento de individualização da vida. Vários/as autores/as têm questionado este modelo e apontado a necessidade central de articular questões subjetivas/individuais e estruturais/contextuais na compreensão das demandas dos/as orientandos/as e no planejamento da intervenção a ser realizada para a compreensão das possibilidades e limites da construção do futuro de trabalho, principalmente das pessoas que sofrem desvantagens socioeconômicas e culturais. Assim, visamos analisar a estratégia compreensiva (proposta diagnóstica) das demandas iniciais expressas por uma pessoa socioeconômica e culturalmente desfavorecida de três enfoques teóricos contemporâneos da OPC (enfoque traço-fator, paradigma do life design e psychology of working theory); e propor uma estratégia compreensiva das demandas dos/as orientandos/as fundamentada na interseccionalidade de classe, gênero e raça por meio de um estudo de caso de uma mulher negra, pobre e desempregada. Concluímos que os enfoques analisados cuidariam de aspectos relevantes para o auxílio às demandas da participante, entretanto de forma parcial, e sem claramente incluir dimensões interseccionais significativas que definem quem ela é e o que ela pode conseguir no mundo do trabalho, marcando a necessidade de pluralização e contextualização das estratégias compreensivas em OPC, que devem levar em conta tanto questões psicológicas, quanto culturais e sociais para poder ampliar o espectro de pessoas auxiliadas em OPC.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Alvesson, M., & Willmott, H. (2002). Identity regulation as organizational control: Producing the appropriate individual. Journal of Management Studies, 39(5), 619-644. http://doi.org/10.1111/1467-6486.00305

Antunes, R. (2012). O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo.

Blustein, D. L. (2019). The importance of work in an age of uncertainty: The eroding work experience in America. Oxford: Oxford University Press.

Blustein, D. L., Kenny, M. E., Autin, K., & Duffy, R. (2019). The psychology of working in practice: A theory of change for a new era. Career Development Quarterly, 67(3), 236-254. https://doi.org/10.1002/cdq.12193

Blustein, D., Masdonati, J., & Rossier, J. (2017). Psychology and the International Labor Organization: The role of psychology in the decent work agenda. Retrieved from www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---.../wcms_561013.pdf

Bock, S. D. (2010). Orientação profissional para classes pobres. São Paulo: Cortez.

Bohoslavsky, R. (1983). Vocacional: teoria, técnica e ideologia. São Paulo: Cortez.

Bourdieu, P. (2003). A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva.

Brown, D. (2002). Introduction to theories of career development and choice. In D. Brown & Associates, Career choice and development (pp. 3-23, 4. ed.). San Francisco: Jossey-Bass.

Butler, J. (2011). Problemas de gênero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Cardoso, P. (2012). Maladaptive repetition and career construction. Journal of Vocational Behavior, 81(3), 364-369. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.09.003

Cole, E. R. (2009). Intersectionality and research in psychology. American Psychologist, 64, 170-180. https://doi.org/10.1037/a0014564

Delgado, R., & Stefancic, J. (2017). Critical race theory: An introduction. New York: New York University Press.

Duarte, M. E. (2015). Some reflections on guidance and career counselling in the 21st century. In A. Di Fabio & J.-L. Bernaud (Eds.), The construction of the identity in 21st century (pp. 59-72). New York: Nova.

Duarte, M. E., Lassance, M. C., Savickas, M. L., Nota, L., Rossier, J., Dauwalder, J-P, Guichard, J., Soresi, S., Van Esbroeck, R., & van Vianen, A. E. M. (2010). A construção da vida: um novo paradigma para entender a carreira no século XXI. Revista Interamericana de Psicologia, 44(2), 392-406. Recuperado de https://www.redalyc.org/pdf/284/28420641020.pdf

Duffy, R. D., Blustein, D. L., Diemer, M. A., & Autin, K. L. (2016). The Psychology of Working Theory. Journal of Counseling Psychology, 63(2), 127-148. https://doi.org/10.1037/cou0000140

Gonçalves Filho, J. M. (1998). Humilhação social - um problema político em psicologia. Revista Psicologia USP, 9(2), 11-67. https://doi.org/10.1590/S0103-65641998000200002

Guba, E. G. (1990). The paradigm dialog. London: Sage.

Guichard, J. (2012). Quais os desafios para o aconselhamento em orientação no início do século 21? Revista Brasileira de Orientação Profissional, 13(2), 139-152. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902012000200002&lng=pt&tlng=pt

Hooley, T., & Sultana, R. G. (2016). Career guidance for social justice. Journal of the National Institute for Career Education and Counselling, 36, 2-11. https://doi.org/10.20856/jnicec.3601

International Labour Organization (ILO, 2019). World employment and social outlook: Trends 2019. Geneva: International Labour Office. Retrieved from: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/---publ/documents/publication/wcms_670542.pdf

Paiva, V. (2005). Analysing sexual experiences through ‘scenes’. Sex Education, 5(4), 345-358. https://doi.org/10.1080/14681810500278295

Rascován, S. E. (2017). Orientación vocacional con sujetos vulnerabilizados: experiencias sociocomunitarias en los bordes. Buenos Aires: Noveduc.

Ribeiro, M. A. (2017). Psicossocial: continuum ontológico do processo relacional. In N. Silva Jr. & W. Zangari (Orgs.), A psicologia social e a questão do hífen (pp. 263-277). São Paulo: Edgard Blücher. Recuperado de https://openaccess.blucher.com.br/article-details/18-20474

Ribeiro, M. A., & Duarte, M. E. (2019). O paradigma Life Design: teoria, investigação e intervenção. In M. A. Ribeiro, M. A. P. Teixeira, & M. E. Duarte (Orgs.), Life Design: um paradigma contemporâneo em orientação profissional e de carreira (pp. 49-66). São Paulo: Vetor.

Santos, B. S. (2009). Para além do pensamento abissal. In B. S. Santos & M. P. Menezes (Orgs.), Epistemologias do Sul (pp. 23-71). Coimbra: Almedina.

Silva, F. F., Paiva, V., & Ribeiro, M. A. (2016). Career construction and reduction of psychosocial vulnerability: Intercultural career guidance based on Southern epistemologies. Journal of the National Institute for Career Education and Counselling, 36, 46-53. https://doi.org/10.20856/jnicec.3606

Sparta, M., Bardagi, M. P., & Teixeira, M. A. P. (2006). Modelos e instrumentos de avaliação em orientação profissional: perspectiva histórica e situação no Brasil. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 19-32. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902006000200004&lng=pt&tlng=pt

Stead, G. B., Perry, J. C., Munka, L. M., Bonnett, H. R., Shiban, A. P., & Care, E. (2012). Qualitative research in career development: Content analysis from 1990 to 2009. International Journal for Educational and Vocational Guidance, 12, 105-122. https://doi.org/10.1007/S10775-011-9196-1

Sultana, R. (2018). Responding to diversity: Lessons for career guidance from the global South. Indian Journal of Career and Livelihood Planning, 7(1), 48-51. Retrieved from http://www.iaclp.org/yahoo_site_admin/assets/docs/6_Ronald.13104841.pdf

Downloads

Publicado

2020-10-29

Como Citar

Ribeiro, M. A., Figueiredo, P. M., & Almeida, M. C. C. G. de. (2020). Desafios contemporâneos da orientação profissional e de carreira (OPC): a interseccionalidade como estratégia compreensiva. Psicologia Argumento, 39(103), 98–122. https://doi.org/10.7213/psicolargum.39.103.AO05

Edição

Seção

Artigos