A ontologia espinosista de Deleuze: univocidade, imanência, diferença

Autores

DOI:

https://doi.org/10.7213/1980-5934.32.056.DS09

Palavras-chave:

Gilles Deleuze, Baruch Espinosa, ontologia, univocidade do ser, diferença

Resumo

Na filosofia de Gilles Deleuze, há uma ontologia, que é apresentada por meio da tese da univocidade do ser. Na história da filosofia ocidental, Deleuze destaca três momentos da univocidade do ser: com Duns Scot, o ser é pensado como unívoco (momento da univocidade); com Espinosa, o ser é afirmado como unívoco (momento da imanência); com Nietzsche, o ser é realizado como unívoco (momento da diferença). Em todo caso, a univocidade é uma alternativa à analogia, e a principal discordância entre essas duas teses é que a analogia insere uma hierarquia e uma negatividade no cerne do ser, ao passo que a univocidade põe o ser como igual (não-hierárquico) e isento de negatividade (neutro ou afirmativo).

Neste artigo, não se trata de apresentar a teoria da univocidade do ser em Deleuze, mas de explorar a leitura que ele faz da univocidade do ser em Espinosa, e sobretudo a variação a ela imposta entre o primeiro e o segundo livros dedicados ao filósofo holandês, Espinosa e o problema da expressão (1968) e Espinosa: filosofia prática (1981). Constata-se que, no primeiro estudo, Espinosa é tido principalmente como herdeiro de Duns Scot, e no segundo, ademais, como aliado de Nietzsche. Tem-se como hipótese que Espinosa é arrastado, nesse ínterim, do segundo para o terceiro momento da univocidade do ser, na vassoura de bruxa de Deleuze. A consequência é que a imanência e a afirmação se conciliam com a diferença. A afirmação do ser passa a ser afirmação da própria diferença. Ou, dito de outro modo, o ser deixa de ser
apenas afirmado para ser realizado como diferença. Chega-se, assim, a uma ontologia construtivista, que tem a ética como sua condição prática.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Mariana de Toledo Barbosa, Universidade Federal Fluminense Professora Adjunta

Professora do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal Fluminense.

Referências

BADIOU, A. (1997) Deleuze: la clameur de l’être. Paris: Hachette, 2009.

CHAUÍ, M. Intensivo e Extensivo na Ética de Espinosa: a interpretação dos modos finitos por Deleuze. In: FORNAZARI, S. K. (coord.); AZEVEDO, A. B. et al. (orgs.). Deleuze Hoje. São Paulo: Fap-Unifesp, 2014. p. 21-40.

CRAIA, E. A problemática ontológica de Gilles Deleuze. Curitiba: EdUnioeste, 2002.

DELEUZE, G. (1968a) Diferença e repetição. Tradução de Luiz Orlandi e Roberto Machado. São Paulo: Paz e Terra, 2018.

DELEUZE, G. (1968b) Espinosa: o problema da expressão. Tradução de GT Deleuze-12. São Paulo: Editora 34, 2017.

DELEUZE, G. (1981) Espinosa: filosofia prática. Tradução de Daniel Lins e Fabien Pascal Lins. São Paulo: Escuta, 2002.

ESPINOSA, B. (c. 1677) Ética. Tradução do Grupo de Estudos Espinosanos. São Paulo: EdUSP, 2015.

HARDT, M. (1993) Gilles Deleuze: an apprenticeship in philosophy. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2007.

MACHADO, R. Deleuze, a arte e a filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

MONTEBELLO, P. Deleuze: la passion de la pensée. Paris: Vrin, 2008.

SILVA, C. V. Corpo e pensamento: alianças conceituais entre Deleuze e Espinosa. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.

UEXKÜLL, J. (1956) Mondes animaux et monde humain. Suivi de: La théorie de la signification. Paris: Denoël, 2004.

ZOURABICHVILI, F. (1994/2004) Deleuze. Une philosophie de l’événement. In: ZOURABICHVILI, F., SAVAGNARGUES, A., MARRATI, P. La philosophie de Deleuze. Paris: PUF, 2004.

Publicado

2020-07-17

Como Citar

Barbosa, M. de T. (2020). A ontologia espinosista de Deleuze: univocidade, imanência, diferença. Revista De Filosofia Aurora, 32(56). https://doi.org/10.7213/1980-5934.32.056.DS09